Enquanto uns, ensandecidos, fazem quebra-quebra no planalto central do pais, outro, bem pacifico, mantém uma tradição de raiz. “Olha o quebra-queixo, quebra-queixoooo…”
Assim Admilson de Jesus, 45 anos, morador do Bairro Irmã Dulce, percorre as ruas de Ipiaú anunciando a mercadoria que conduz na bandeja de flandre, equilibrada sobre uma rodilha na carapinha. Ele é um dos dois remanescentes no comércio ambulante desse doce típico, na cidade. O outro é seu irmão.
O marketing das antigas é reforçado pelo tiquilingue agudo do som do triangulo, tocado pelo próprio vendedor. Tem sempre alguém comprando, se deliciando, pedindo mais. Admilson nunca volta pra casa sem a bandeja vazia. Vende tudo. Quando a freguesia tá devagar em Ipiaú, ele desloca até Barra do Rocha ou Ubatã.
A faca afiada, bem mais patriótica do que aquela que perfurou a tela de Di Cavalcante no terceiro andar do Palácio do Planalto, corta os pedaços que atiçam o paladar e provocam, em delicias, os queixos mais duros. Os pedaços menores custam três reais, os maiores são vendidos a cinco. O dinheiro apurado vai parar no ‘borná’. O sustento da família do mercador assim é garantido.
Fazem 20 anos que Admilson vende o quebra-queixo artesanal que ele mesmo prepara. A receita vem dos seus ancestrais. Açúcar, coco e limão são alguns dos ingredientes da guloseima que ativa a gulodice. A figura tradicional do vendedor de quebra-queixo resiste em Ipiaú, onde não mais se ver o vendedor de pirulito, de taboca e rolete. * Giro/José Américo Castro