Vivemos em uma sociedade que tem imposto padrões de uma existência cada vez mais distantes do que é possível de alcançar na realidade, seja no campo da produtividade, precisando dar conta de muitas funções, ou do narcisismo social que padroniza corpos, e segrega aqueles que não se encaixam nas normas estabelecidas de aceitação. Ter sucesso na vida profissional, ostentar uma alta performance, e postar fotos de uma vida perfeita é o grande gerador de engajamento do momento. Mas, e o que tem sido feito com os espaços dos vazios que fazem parte do que é subjetivo a cada um de nós, por trás dessa cena performática e geradora de likes?
O filósofo Byung-Chul Han no livro; A sociedade do cansaço, explica como o imperativo da positividade e da superprodução são formas de violências que adoecem psiquicamente. Ele aborda a depressão como uma expressão patológica do fracasso do homem pós-moderno em ter que lidar com a carência de vínculos, com a pressão do desempenho, com o esgotamento e frustrações. Afinal, por mais que o corpo se esforce, ele sempre vai esbarrar em uma limitação, e os padrões de consumo estão sempre se modificando, justamente para que a busca por estes permaneça em movimento. Portanto é equivocado romantizar esse comportamento de esforço por alta performance constante, estética perfeita, vida equilibrada, sem considerar todos os imperativos de consumo e produtividade por trás desses discursos e os gatilhos de frustrações que eles geram em muitas pessoas, além do que são práticas inacessíveis para a maioria da população de baixa renda. Ter uma função para desempenhar, amar e ser amado (a), sentir-se vivo (a), produtivo (a), reconhecido (a) e útil, é o desejo de todo ser humano que vive em busca de pertencimento e do que chamamos de felicidade. Mas, essas conquistas, se é que podemos chamar assim, são subjetivas a cada um de nós, nem sempre chegam ao mesmo tempo ou seguindo uma ordem em nossas vidas. Como dizia Guimarães Rosa; “Felicidade chega em horinhas de descuido! “Felicidade é lugar de delicadeza e atenção, é preciso estar atento (a), sensível, e disponível para senti-la.
Todos nós sabemos que para além desse lugar de performance e desempenho que somos constantemente cobrado(a)s a corresponder, também somos feitos de vulnerabilidades e limitações que são inerentes ao nosso ser e que são essas que nos movimentam em direção a descobertas e transformações importantíssimas na vida. Como escreveu a poetisa Clarice Lispector, “até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”
Simone Souza Cafeseiro
Psicóloga e psicanalista
Crp: 03/19407