Quando uma equipe vai mal na tabela de um campeonato, acumulando resultados ruins, eliminações, decepções, é muito comum haver pressão de torcida e cobranças e críticas da imprensa. Mas no caso da seleção de Ipiaú, apesar de ser líder absoluta do Grupo 10, uma das oito seleções sem sofrer derrota no Intermunicipal, com 100% de aproveitamento em casa, terceiro melhor ataque e terceira melhor defesa, as coisas estão fora dos trilhos e isso tem afetado veementemente o time de forma geral.
O mês de agosto foi marcado por atraso no pagamento dos jogadores, comissão técnica e até fornecedores, apesar de estar com o dinheiro do repasse na conta. A Liga Desportiva nunca fugiu do debate e sempre esclareceu a todos que situações burocráticas causaram tais atrasos. Em entrevista concedida ao repórter Romário Henderson, o técnico da seleção de Ipiaú, Guto Chalup, respondeu a algumas perguntas relacionadas ao momento da equipe, a pressão da torcida e as conturbações externas. Confira a seguir a entrevista com o técnico.
GIRO: Os primeiros dois jogos da seleção de Ipiaú foram muito bons. Controle de bola, controle do jogo e resultado conquistado de forma tranquila. Mas nas últimas 3 rodadas, apesar de não ter perdido, notou-se uma queda no rendimento da equipe. Você também enxerga assim ou pensa diferente?
– Desde o início trabalho bastante a posse de bola e o domínio do jogo tanto dentro de casa como fora de casa. A queda vem de várias circunstâncias e fatores. Perdemos muitos jogadores, no primeiro e segundo jogo jogamos com dois atacantes de lado. O de área que era Paulinho a gente sabia que não ia poder contar devido uma cirurgia no joelho. Fagner não estava contratado e nem Breno, dois atacantes de área. Dois ou três jogadores que não treinam diariamente fazem diferença também na parte física. O time tem caído muito no segundo tempo, seu ritmo tanto físico como de posse de bola. Aí você me pergunta: é por causa do preparo físico? Pode até ser. Mas não é por culpa do preparador físico Edézio, que diga-se de passagem é um dos melhores. Essa culpa também pode se dar ao desgaste muscular dos nossos atletas devido a competição intervale, que quando estava na semifinal da competição já estávamos nos apresentando para o intermunicipal. Aí Ipiaú contratou 8 a 9 jogadores que se desgastaram até a semifinal, são eles: Draid, Pey, Jefinho, Joaninha, Netinho, Calado, Gilvany, Caio e outros. Quase o time todo completo. Além do mais, do terceiro jogo para cá tivemos vários problemas graves, percas demasiadas de atletas. Por exemplo: eu no jogo de São José não pude contar com os dois laterais esquerdos machucados e não tinha outro esquerdo, não pude contar com dois atacantes de área, um expulso e o outro machucado. Muitas coisas extra campo que acontecem todo dia, aqui não quero citar.
GIRO: Contra Coaraci e contra São José da Vitória, Ipiaú jogou por bastante tempo com um homem a mais, mesmo assim não conseguiu agredir tanto o adversário. Em situações isoladas do jogo, ainda levou algum pequeno susto, mesmo com a superioridade numérica. Como explicar essa falta de agressividade ofensiva?
– Não concordo com a falta de agressividade e não concordo que o time levou pequenos sustos, até porque nosso goleiro em momento algum precisou fazer uma defesa. Os três gols que levamos na competição, todos por falhas individuais e totalmente bolas entregues. Foi assim em Itabuna. O primeiro gol foi falta de atenção em uma bola parada, que é o que eu mais peço, o posicionamento. O segundo, um pênalti com o atacante adversário saindo para linha de fundo, sem oferecer perigo. O outro de São José uma bola perdida na frente da área por confiança demais na capacidade técnica. Mas em momento algum time adversário entrou trabalhando para fazer jogadas ou gols em nossa equipe. Em relação a falta de agressividade, nós somos o time que mais chega na área dos adversários, até mesmo fora de casa os próprios torcedores adversários concordam com a facilidade de chegar tanto ao gol. Agora se estamos perdendo as oportunidades é diferente. Trabalhamos muito finalizações no dia a dia. Somente em São José era para termos feito 3 a 4 gols. No início do jogo perdemos duas oportunidades.
GIRO: Nós temos acompanhado que o fator externo da seleção está bastante conturbado, desde atraso salarial, greve de treinos, dispensa de atletas, etc. Essa panela fervendo do lado de fora tem de alguma forma interferido no desempenho da equipe em campo?
– Agora eu que faço a pergunta: O que você acha? Até agora não tivemos paz interna, vocês repórteres não sabem de nada, torcedor menos ainda, em relação ao que tem acontecido internamente. Sou um herói em ainda não ter perdido por problemas extra campo. Itapetinga com uma equipe escolhida a dedo, folha salarial maior que a nossa e perdeu dentro de casa. Castro Alves com Zé Carijé no comando de uma equipe qualificada e já perdeu. Beto Oliveira salvo engano, soube que já foi demitido por causas de vários empates. Itamaraju atual campeã já perdeu. Somos o terceiro melhor ataque e somos a terceira melhor defesa, com todos os problemas. Ainda não perdemos e somos a primeira do grupo. Somos uma das oito equipes que estão invictas. Mesmo com problemas tão grandes todos os dias. Espero que a semana que vem a paz reine, para não passarmos por nada disso na segunda fase.
GIRO: Nos grupos de whatsapp da torcida de Ipiaú, domingo a torcida está esperando uma vitória tranquila, de goleada e com atuação convincente. Essa cobrança se deve ao potencial que essa equipe tem de sempre oferecer mais. Como você está lidando com essa pressão do torcedor que acompanha e incentiva a seleção?
– Nunca tive problema com torcedor nenhum, muito menos com imprensa. Sei lhe dar com todas as circunstâncias. Pressão é uma palavra que não existe no meu vocabulário. A pressão nunca vai me incomodar porque sei o que estou fazendo, só não posso ser Deus e nem fazer milagres. Entendo o torcedor porque vive de emoções, já o treinador tem que viver pela razão. E também não vejo pressão de torcida, até porque a torcida está dia a dia vendo o trabalho sério. Agora sempre tem uma pessoa infiltrada no meio do torcedor, querendo se aparecer, chamar a atenção e ser o centro das atenções, até porque esse indivíduo é carente de ser visto, para ser olhado ou percebido ele chama atenção com ofensas, gritos e palavrões. Normalmente sei lhe dar com todo tipo de pressão, até porque vim de uma base que é a maior pressão do Brasil que é o Corinthians.
E pressão comigo não funciona, sou do diálogo, do debate, de ouvir, de expor as minhas filosofias de trabalho. Às vezes o torcedor está habituado somente com o esquema 4-4-2 ou 4-3-3. Quando você lança um esquema 3-5-2, alguns não entendem. Também é normal. Muitos questionam por que com um jogador a mais não tirei um zagueiro. Tirei um lateral e coloquei um atacante. Não tirei um zagueiro devido as bolas áreas e também devido aos dois volantes do nosso time que já estavam bem desgastados, é uma posição que não temos substitutos na suplência. Então você tira dependendo das circunstâncias e características de cada atleta. Foi o que aconteceu, eu sempre jogo com o regulamento debaixo do braço. Não vejo motivo para tantos questionamentos. Sem mais no momento. Estou à disposição a toda hora que precisar, não só você, mas todo torcedor e imprensa desde quando tenha modos e educação no falar e perguntar.
A seleção de Ipiaú fecha a primeira fase no próximo domingo, 03, no estádio Pedro Caetano, contra a seleção de Itabuna. A partida vale para Ipiaú a confirmação da liderança do Grupo 10. (GIRO/Romário Henderson)