Por José Américo Castro
Já transita pelas galáxias, nas altitudes do infinito, muito além, mais alto que o globo da torre da Primeira Igreja Batista – PIB de Rio Novo que ele construiu e reconstruiu, simbolizando a amplitude do planeta Terra. Decerto foi num sonho alegre conforme o poema musical que escreveu e Baby do Brasil gravou emplacando grande sucesso. Na letra da música disse ter visto Mick Jagger montado num jegue na Jamaica, transando um reggae. “Num trote, talvez num xote, sem destino, a pé pra Jequié. Qual é ? Qual é?
É Lula Martins, o ator de Metorango Kid, filme de Andre Luiz Oliveira, ícone da cultura pop, do cinema undergraund, artista multimídia, referencia nas bienais de São Paulo, tropicalista, lendária figura de contracultura nacional.
Ele foi o homem que filmou Ripa, que escreveu Mágicas Mentiras e outros livros, que era natural de Itagi, amante de Ipiaú, apaixonada por Jequié, irmão do saudoso Zé Carlos Jaraguá.
Lula desencarnou às 23 horas e 30 minutos desta segunda-feira, 8 de julho, em Salvador. Tinha sofrido um infarto e já estava alguns dias internado no Hospital Santa Isabel. Nesse período sofreu falência de alguns órgãos.
Antonio Luiz Silva Martins, ator, escritor, poeta, pintor, escultor, diretor, cantor, artista plástico, fotógrafo, cineasta, documentarista, pesquisador e compositor, mais conhecido como Lula Martins, tinha 80 anos, e deixa um valioso legado cultural. Era filho do poeta Hermes Martins gerente da firma Corrêa Ribeiro & Cia, em Ipiaú e da professora América Stella.
Nasceu em Itagi, morou em Ubatã, estudou no Ginásio de Rio Novo, participou de peças de teatro dirigidas por dona Delinha, mãe da professora Wanda Santiago e sogra do professor Tatai. Foi um dos mais importantes agitadores culturais de Ipiaú.
O jornalista Wilson Midlej lembra que coube a Lula Martins, a pedido de Euclides neto, criar na 1ª Exposição Agropecuária de Ipiaú, o célebre slogan: “DA FORÇA DA TERRA, UM ENCONTRO DE RAÇAS”.
Do Cine Teatro Edén, em Ipiaú, Lula dizia: “Foi a minha escola de cinema. Ali eu tive a oportunidade de assistir incontáveis filmes de todos os gêneros e qualidades”.
Em 1974 a pedido do Pastor Paulo Silva, o escultor Lula Martins criou e instalou sobre a torre da Pib de Rio Novo, um globo metálico que rebrilhava à luz do sol. Em 2014, no ensejo das comemorações do Centenário da Igreja, o artista foi convidado pelo Pr. Carlos César Januário para substituir a obra por outra de material mais leve e mais resistente. E assim foi feito. Um novo globo de fibra de polietileno foi instalado no local. É uma das obras mais significativas de Lula Martins nesta cidade.
Lula Martins criou capas de discos que se tornaram famosos na MPB, dentre eles destacamos a do álbum “Acabou Chorare” do grupo Novos Baianos que foi escolhida pela critica como a melhor do ano de 1972.
Aprendeu muito cedo a curti o novo. E segundo ele mesmo, “gostar do novo dentro de uma sociedade fechada e provinciana foi uma divertida e cruel barra pesada”.
“Ainda jovem, Lula seguiu para Salvador, depois de passa uma longa temporada em São Paulo e finalmente viaja para a Espanha, mas o tempo pensava em Ipiaú e Jequié”, destaca o escritor e pesquisador Christopher Dunn.
O artista chegou a fazer uma exposição com telas psicodélicas no Rio Novo Tênis Clube, no entanto, poucos apreciaram esse momento importante e muitos desconheceram que um gênio andava nesta cidade. Infelizmente perderam tamanha oportunidade.
Nesta região filmou RIPA, um negro octogenário, truculento e fisicamente saudável que diziam ser louco. Ripa percorria os municípios da região e quando bebia umas pingas aprontava cenas que atemorizavam as pessoas das cidades onde passava.
Lula se aproximou de Ripa , descobriu sua verdadeira identidade e registrou a arte pictórica que ele esculpia nos barrancos e pedras que margeavam o antigo traçado da rodovia Ipiaú-Jequié. Uma cópia do documentário está no Museu do Inconsciente da Casa das Palmeiras, em São Paulo.
A morte de Lula Martins foi noticiada por órgãos da imprensa baiana de outros estados brasileiros. Que lhes rendam em Ipiaú, Jequié e demais cidades onde sua arte se fez presente, para que as atuais e futuras gerações tomem conhecimento dessa grande figura da cultura undergraund. “Acabou Chorare”.