Quando pensamos o feminino, automaticamente pensamos sobre um conjunto de padrões que ditam a performance da mulher, que dita o que é belo, o que é sexy, o que é elegante, o que é vulgar, o que é feio, o que não é aceitável e o que é aceitável para que uma mulher tenha o seu corpo e o seu comportamento aprovado socialmente.
A autora francesa Simone de Beauvoir escreveu em seu livro: O segundo sexo, que não se nasce mulher, torna-se mulher. A escritora explica que a formação da mulher é influenciada por ensinamentos culturais que vão moldando a forma de agir, de pensar, de se vestir e de se relacionar com os outros e consigo mesma.
Vivemos atualmente um momento em que as mulheres já conseguem ocupar espaços que não ocupavam, se posicionar de forma mais autônoma e independente e questionar padrões impostos ao feminino. Ainda assim, o ideal de beleza, o culto a jovialidade, o corpo esculpido, o comportamento de mulher submissa que é idealizado por muitos homens em um casamento heteronormativo ainda prevalece, e aquelas mulheres que seguem pela contramão dessa cartilha, como a Simone de Beauvoir seguiu, precisam encarar os desafios de uma posição que ainda é alvo de muitas críticas, violências e incompreensões.
Em contrapartida, cresce o desconforto de muitas mulheres que sustentam angustiadas o lugar em que são socialmente aceitas e validadas, mas que traz uma grande sobrecarga física, mental e emocional.
Segundo uma matéria da CNN, a ONG Think Olga desenvolveu uma pesquisa que revelou que 45% das mulheres brasileiras possuem um diagnóstico de ansiedade, depressão, ou outros tipos de transtornos e 86% consideram ter muita carga de responsabilidades. As cuidadoras e mães-solo também são as mais sobrecarregadas com as tarefas domésticas e de cuidado, com 51% das mães e 49% das cuidadoras apontando a situação financeira restrita como o maior impacto na saúde mental. (Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional) Os esforços para ter um corpo perfeito, as manobras estéticas para se manter jovem, a sobrecarga de ter que dar conta da gestão e da organização de um lar e de todas as pessoas que o compõe, a invisibilidade e desvalorização desse lugar de cuidado, o sentimento de cansaço ao ter muitas vezes que conciliar tudo isso com o desejo e o esforço de exercer um trabalho laboral que possa lhe dar ao menos uma “independência” financeira e resgatar um pouco da sua autonomia, são apenas algumas das questões que protagonizam as angustias de muitas mulheres.
Como uma mulher pode vestir a própria pele, descobrindo e bancando os seus próprios desejos e sonhos, em uma sociedade que impõe as mesmas, tantos padrões para que sejam aceitas e tantas tarefas para que se mantenham
ocupadas e de alguma maneira, limitadas?
O reconhecimento dessa dor para a maioria, ainda é invisível.