O filósofo Herbert Spencer tem uma frase muito conhecida que diz que a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro. Todavia, apesar dos direitos adquiridos ao longo dos anos através das lutas feministas, essa prática encontra muitos desafios quando se trata do direito a liberdade das mulheres.
Somos educado(a)s por condutas éticas, morais e sociais que se aplicam de formas distintas a depender do gênero masculino e feminino.
Considerando a liberdade e os privilégios que o homem possui na sociedade, a liberdade da mulher ainda é uma busca construída. Liberdade é direito de ir e vir, de decidir sobre si mesmo, sobre o próprio desejo e as próprias escolhas tendo seus direitos e responsabilidades asseguradas. No entanto, em uma sociedade onde o direito ao voto, o acesso à educação, a igualdade no local de trabalho, o direito ao divórcio, os direitos reprodutivos e a maior representatividade política, são conquistas relativamente recentes das mulheres, fica claro que a “liberdade feminina” é estruturalmente restrita, controlada e marcada por limitações.
Conversando com um grupo de mulheres, perguntei sobre em quais áreas da vida elas se sentem sem liberdade, e a liberdade de ir e vir foi o primeiro ponto citado. O Medo de andar na rua sozinha e usar roupas que desenhem seus corpos são justificados pelo sentimento de vulnerabilidade diante dos assédios e números de violências que homens praticam contra as mulheres em locais públicos e privados.
As mulheres também citam a ausência de liberdade nos contextos familiares em relações heteronormativas, onde elas se mantem integralmente ocupadas aos cuidados da família e/ou trabalhos laborais, enquanto seus parceiros conseguem ter seus momentos de distração. Ainda nesse contexto, muitas mulheres citam a interferência dos parceiros na escolha das suas roupas e até nos vínculos de amizade. Nos casos em que as mulheres dependem financeiramente dos homens, a ausência de liberdade é ainda maior, pois muitas vezes é o provedor quem dá a última palavra.
Outro ponto citado é sobre a liberdade sexual, mulheres que se sentem limitadas em seus diálogos ou até mesmo julgadas quando expressam seus desejos mais abertamente.
Mesmo reconhecendo as mudanças progressivas que ocorrem socialmente, infelizmente os princípios que regem a estrutura ainda continuam com raízes fortes de comportamentos machistas que insistem em exercer controle e violência sobre os corpos femininos.
O caminho para a liberdade feminina deve continuar sendo corajosamente construído a partir de mudanças estruturais que promovam mais empoderamento às mulheres, e isso deve incluir o investimento em políticas públicas de proteção as mesmas, sobretudo as que estão em maior vulnerabilidade social, assim como é necessário promover diálogos abertos que reforcem a importância da extinção dos comportamentos machistas e misóginos em todos os campos da sociedade.
Simone Souza é psicóloga e psicanalista, graduada em História.
Fundadora da clínica- Espaço Curar.
Realiza atendimentos clínicos presencial e online, para adolescentes e adultos.
Agendamentos no WhatsApp: (73) 998336007.