
Há 19 anos o local onde foi enterrado o corpo de Divaldo Angelin Veras, àquele que ganhou notoriedade nacional por se tornar mendigo após gastar grande riqueza, estava sem qualquer sinal de identificação. E assim permaneceu até o dia 31 de janeiro deste ano, quando a jornalista aposentada Rosana Milliman ali fixou um azulejo com a imagem do emblemático personagem (ver matéria sobre Veras).
Rosana Milliman não conheceu Veras pessoalmente, mas ainda adolescente ficou sabendo da sua existência através da Coluna de July (Jornal A Tarde), que divulgava os acontecimentos da alta sociedade soteropolitana. Os nomes de Veras e Popó, sua então esposa, apareciam com frequência naquele espaço pelas suntuosas festas que promovia em Salvador, reunindo celebridades.
Após conhecer a história de vida de Veras, da ascensão ao declínio, a jornalista se disse fascinada e resolveu prestar-lhe uma homenagem póstuma. No azulejo fixado ao pé de uma pequena cruz de madeira, Veras se mostra em traje elegante brindando um momento de grandeza.

Não foi fácil de encontrar o local em que o corpo foi sepultado naquela distante manhã de 29 de agosto de 2006 no Cemitério Velho de Ipiaú. Acompanhada de seu marido, Artur, Rosana insistiu até que conseguiu. Para isso contou com o auxilio de um antigo coveiro, já que os atuais não tinham a mínima ideia da localização.
Seu Raimundo, em pleno gozo da merecida aposentadoria, dignou-se em atender o pedido da jornalista. Foi até o cemitério e apontou o lugar exato. Ele ainda lembrou que no enterro de Veras não teve choro, nem vela, muito menos flores e capelas. Apenas um caixão, daqueles que a Prefeitura destina aos cadáveres dos indigentes e alguém acompanhando.
O marco fixado por Rosana Milliman, permitirá que de agora em diante outras pessoas possam visitar a sepultura de Veras. Saber que ali está enterrado àquele que fez da extravagância a sua marca registrada e do mesmo jeito que tratou as celebridades que compartilharam os seus momentos de fausto, considerou os mendigos que o acolheram nos obscuros espaços das sarjetas.
No azulejo consta a mensagem: ”Para Veras com o carinho dos admiradores”. Ela diz que sua admiração pelo personagem ganhou força após o escritor Franklin Carvalho ter lhe mandado links do YouTube como os documentários: “Deveras” e “Veras”, dirigidos respectivamente por Paulo Thiago e Edson Bastos. Assistiu aos dois vídeos, e ficou sabendo de importantes detalhes da existência de tão excêntrica figura. Desde então buscou conhecê-lo melhor.
Rosana pretende escrever um livro tendo Veras como tema central. “Ainda não sei exatamente como será, mas não penso exatamente numa biografia. Estou mais inclinada a contar a vida dele através de relatos das pessoas que o conheceram, organizando-os em ordem cronológica. Quero fazer um retrato da pessoa dele e de como via a vida e a viveu”, adianta a jornalista.
Em um vídeo, gravado pelo seu companheiro, Artur, Rosana Milliman conta como descobriu Veras e da viagem que fez de Salvador a Ipiaú para prestar a homenagem póstuma. (Giro/José Américo Castro).