
Quem disse que bar não é lugar de cinema? Nesta sexta-feira (25), o 4º Circuito Cine Éden provou que o espaço de lazer preferido de muitos ipiauenses pode sim servir de palco para exibições de filmes. A mostra competitiva do evento, intitulada Curta no Bar, levou produções de realizadores locais ao Bar’Bossa, na Avenida Benedito Lessa, no Bairro Antônio Carlos Magalhães. Em jogo, estava uma disputa pelo prêmio de R$2 mil reais.

Segundo filme a ser exibido na noite, Terra de Insanos, uma Curta História, foi o grande vencedor do concurso, conquistando a maior nota do Júri Popular e um cheque com o valor em dinheiro. Dirigido pela cineasta Carolina Olídia, o curta-metragem usa a enigmática frase “Ipiaú, Terra de Insanos” como ponto de partida para provocar reflexões sobre identidade local e pertencimento. Para isso, reúne depoimentos de moradores que compartilham suas impressões acerca do texto, que passou a integrar o imaginário popular da cidade.
“Existe essa curiosidade em Ipiaú das pessoas quererem saber de onde vem essa frase, mas no final acabei optando por deixar a mística, sabe? E foi muito legal, o resultado foi interessante”, compartilhou a diretora no bate-papo realizado após a exibição. Três das pessoas entrevistadas para o documentário, inclusive, estavam presentes na mostra para assistir ao filme, que foi produzido com recursos de um edital municipal da Lei Paulo Gustavo. Carolina agradeceu os aplausos e o reconhecimento do público.

Os outros dois curtas selecionados para a mostra também arrancaram palmas da plateia. Bloco Afro Zumbi, dirigido por Mário César Santos de Oliveira, apresentou aos espectadores a trajetória do movimento de resistência cultural surgido na periferia de Ipiaú nos anos 1980. Com isso, o filme faz um resgate da força dos batuques e da celebração popular que ecoava pelos bairros da cidade como expressão genuína da cultura periférica local, mesmo sem o apoio do Poder Público.
Para o diretor, só o fato de ter sido selecionado para a mostra já foi por si só uma grande vitória. “Eu fico muito emocionado, porque pra uma criança pobre nascida na periferia de Ipiaú, que, pra assistir uma televisão, tinha que ir na casa de um vizinho, ter o seu próprio filme numa mostra de cinema é incrível. É muito satisfatório pra mim estar aqui e ver vocês assistirem um documentário desse, que fala justamente da nossa periferia, da nossa cor, da nossa raça. Muito obrigado!”, disse César.
Última produção entre as três que integraram a mostra competitiva, o videoclipe Temporais, de Verônica Leite, foi o último da seleção a ser exibido. Realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, através do Edital Cine Éden de Produção Audiovisual da Prefeitura, o clipe propõe uma experiência sensível e poética a partir da música autoral da artista. Essa foi a segunda vez que ela teve um curta exibido no Circuito Cine Éden. “Eu só tenho a agradecer pela oportunidade de poder passar esse vídeo pra muito mais pessoas. Essa mostra é tão importante por isso”, afirmou Verônica.
“Muito mais do que uma competição, o objetivo dessa mostra foi, principalmente, valorizar e estimular a produção audiovisual aqui de Ipiaú. Ao longo desta semana, exibimos diversos tipos de filme, como Central do Brasil, longas rodados aqui na Bahia, como Saudade Fez Morada Aqui Dentro. Mas ter esse espaço pra escoar as produções daqui também é muito importante”, ressaltou Henrique Filho, coordenador geral do 4º Circuito Cine Éden.
Contadores de histórias

A sessão do penúltimo dia de programação do evento contou ainda com um curta convidado, o filme Contos de Farda, do multiartista José Araripe Jr. Gravado com uma Super8, quando o diretor tinha 18 anos, a obra traz ao público uma história distópica na qual a indústria cultural e a mídia criam jogos perigosos que estimulam as guerras. Segundo o diretor, fazer filme naquela época, em plena Ditadura, “era muito sobre ser um caçador de imagens, um caçador de assuntos”, revelou.
Presente no bate-papo da mostra, ele deixou um mensagem para a nova geração de realizadores audiovisuais ipiauenses. “Preste atenção aos seus sonhos. Aprenda a conviver com seus sonhos. Eles são projeções dos nossos desejos. E isso permite que o seu olhar e os seus sentidos sejam apurados. Com esses sentidos apurados, você pode inventar histórias, ouvir histórias, transformar a sua história e a história do outro. Então, acredite. Vocês são e têm a missão de serem contadores das histórias de Ipiaú. E não só das histórias, dos sonhos das pessoas de Ipiaú”, finalizou.