Giro Ipiaú

Enfermeira ipiauense cumpriu missão na Faixa de Gaza e em outros 12 países pelo Médicos Sem Fronteiras

Ruth Nascimento Barros

Natural de Ipiaú, a enfermeira Ruth Nascimento Barros tem se destacado em missões humanitárias internacionais por meio da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). Atuando em 13 países, ela tem levado cuidados de saúde a populações afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias e pela falta de acesso à saúde.

A mais recente missão de Ruth foi na Faixa de Gaza, território palestino devastado pelo conflito entre Israel e o Hamas. Ela ingressou na região durante um período de cessar-fogo, quando a população tentava reconstruir o mínimo possível de normalidade. No entanto, com a retomada dos ataques, a situação tornou-se extremamente crítica, marcada pela escassez de água, alimentos, suprimentos médicos e segurança.

No exercício da ajuda humanitária

Durante os dois meses em que esteve em Gaza, Ruth enfrentou o terror da guerra, mas manteve-se firme na missão de prestar ajuda humanitária. Um dos momentos mais marcantes ocorreu em 18 de março deste ano, quando presenciou um bombardeio intenso das forças israelenses. “Foi um dia muito tenso, com muitas bombas sobre toda a Faixa de Gaza. Acho que esse foi um dos momentos mais difíceis que experimentei até então”, relatou a enfermeira.

Foto: Acervo Pessoal

Ruth é filha do médico veterinário Asdrubal Borges de Barros Filho (Dr. Binha) e da assistente social Conceição Nascimento. Sua família tem uma forte tradição no serviço público e na área da saúde: seu avô e bisavô paternos, os médicos Asdrubal Borges de Barros e José Borges de Barros (Dr. Borges), foram figuras importantes da medicina em Ipiaú, sendo este último o primeiro médico da cidade e ex-prefeito. Já seu avô materno, Nilson Nascimento, foi gerente da agência do Banco do Brasil em Ipiaú nos anos 1970.

Profissionais da saúde sob ataque

Gaza destruída

A guerra em Gaza tem sido particularmente violenta para os profissionais da saúde. De acordo com dados atualizados, mais de 1.400 trabalhadores da área foram mortos, além de 418 agentes humanitários, a maioria deles palestinos. A própria MSF já perdeu 11 membros desde o início do conflito.

Missões em 13 países

Em missão na África

Além da Palestina, Ruth já atuou em Egito, Iraque, Moçambique, Brasil, Camarões, Afeganistão, Sudão do Sul, Ucrânia, Nigéria, República Democrática do Congo, Sudão e Haiti. Suas missões envolvem desde a atenção primária e cuidados intensivos até campanhas de nutrição e resposta a epidemias e catástrofes.

Sua primeira missão pelos Médicos Sem Fronteiras foi no Cairo, Egito, em um projeto voltado à saúde mental, com foco no suporte a vítimas de abuso sexual, violência de gênero e tortura, especialmente entre refugiados.

No Sudão do Sul, um dos países mais pobres do mundo, Ruth testemunhou a devastação causada por enchentes em áreas de planície. “Em função da enchente, o que essa gente plantava para comer foi completamente perdido. Aquela pobreza foi o que mais me marcou e marca até hoje. É uma população extremamente vulnerável, com baixa capacidade de resiliência, que depende da ajuda humanitária para sobreviver”, relatou.

A dor dos invisíveis

Com os médicos sem fronteiras

Em outra missão marcante, Ruth atuou dentro de uma prisão em Goma, na República Democrática do Congo, onde encontrou mais de 3.200 detentos em um espaço projetado para apenas 350. “A taxa de mortalidade era altíssima por falta de alimentação, com até três óbitos por semana. Eles pareciam desconectados da humanidade. Seus olhares expressavam sofrimento profundo. Saímos com a certeza do dever cumprido, pois conseguimos zerar as mortes por desnutrição naquele local.”

No meio do fogo cruzado
No Camarões, a casa onde Ruth estava hospedada ficou na linha de fogo entre o governo central e o movimento separatista da República da Ambazônia. O imóvel chegou a ser atingido por projéteis.

Ela também esteve em Moçambique, onde ajudou vítimas do ciclone Idai, tratando emergências como infecções, diarreia, ferimentos e complicações respiratórias.

“O que me move é o amor ao próximo”

Em mais uma missão do Médicos Sem Fronteiras

Ruth revela que o que a motiva a seguir nessa missão global é o desejo de não se calar diante da dor alheia. “Saber que é possível fazer diferente, mesmo em situações tão adversas, como guerras e desastres, me motiva a continuar.”

Ela lamenta o atual cenário de tensões crescentes no mundo, mas mantém a esperança no ser humano: “A maioria das pessoas não deseja guerra, fome ou sofrimento. É bom ver como, mesmo em meio ao caos, o ser humano carrega uma essência de bondade.”

Voluntária também da organização internacional Greenpeace, Ruth finaliza seu depoimento com um convite à ação solidária: “Não desista dos seus sonhos. Faça alguma entrega social. O retorno é muito maior. Plante uma árvore, faça algo em benefício da sua comunidade. O verdadeiro crescimento é o que se compartilha com o outro, impulsionado pela força da união.” *Por José Américo Castro/GIRO Ipiaú