A lendária comerciante Niêta, proprietária da Cabana Pouso do Jacu, em Ipiaú, morreu na tarde desse domingo, 22, às 17h33, em decorrência de uma parada cardíaca. Há um ano ela padecia de diabetes e hipertensão. O corpo está sendo velado no prédio onde funcionou a cabana, na Rua Hildete Andrade, margem da BR-330, e o sepultamento será nessa segunda-feira, às 15h30, no Cemitério Velho.
Niêta tinha 87 anos, era natural de Ipiaú e protagonizou uma história de luta, bravura e muita competência na arte culinária. Da união com o funcionário público Adalberto Dias Novo, motorista da ambulância da Fundação Hospitalar de Ipiaú, ela teve cinco filhos e ainda adotou outros tantos. A descendência se expandiu em 16 netos e 15 bisnetos. Da prole estão vivos Georgina, Álvaro Jorge, Georgelita e Geocélia. Luís já fez a passagem.
Nascida no dia 28 de fevereiro de 1937, Niêta foi batizada com o nome de Antonieta Bacellar e era filha de Francino Rufino Bacelar, ferrador de animal e bom clavinoteiro. Sua mãe se chamava e Adélia da Silva Bacelar.
De seu Francino, Niêta herdou a valentia, tipo “não levar desaforo para casa”, e de dona Adélia os segredos do bom tempero. Foi com essa capacidade que investiu no ramo de restaurante. Quando Francino precisava de ajuda para ferrar algum burro brabo, mula ou cavalo, ele recorria à força da filha. Niêta segurava o bicho pelas orelhas, enquanto seu pai fazia o serviço. Ela também auxiliava dona Adélia na fabricação de charutos finas que eram repassados para os comerciantes da cidade.
Na luta pela sobrevivência ela carregou água em carotes, transportados por jegues, para vender aos coronéis da cidade, atuou no varejo de calçados e cereais na feira livre. Niêta também era generosidade, solidariedade. Dava alimento aos famintos, amparava, confortava. Além das cestas básicas, doava roupas, uniformes escolares e passagens para São Paulo aos jovens que iam em busca de melhores condições de vida.
Quando tinha homens brigando ela entrava no meio para apertar. Certa vez se vestiu com trajes masculino, terno, gravata, chapéu, botou um bigode postiço, e adentrou no cabaré de Lozinha para flagrar o marido que estava lá farreando com amigos e as meninas.
Durante 40 anos a Cabana Pouso do Jacú foi um dos points mais requisitados da cidade, não só pela excelência da moqueca de pitu, especialidade da casa, mais ainda pelas inesquecíveis serestas, embaladas por cantores e bandas famosas em toda a região.
Os políticos, especialmente os da chamada “direita ipiauense”, formavam o grupo dos fregueses mais assíduos. Muitas articulações eleitorais ali foram desenvolvidas. Cabo eleitoral fervorosa do Capitão Milton Pinheiro, Niêta comprou muita briga na defesa do candidato. Também esteve ao lado de Dr. Salvador da Matta, Miguel Cunha Coutinho, José Motta Fernandes e Adenor Soares.
Em homenagem a eles que perderam algumas eleições para o antigo MDB, cujos militantes eram conhecidos com “garranchos”, batizou a cabana como Pouso do Jacu.
Se durante às badaladas serestas alguém se exaltava, ameaçando a ordem do ambiente, Niêta dava um jeito de escurraçar o arruaceiro, nem que para isso tivesse que desembaiar o facão corneta de vinte e tantas polegadas. Outro investimento de Niêta foi a Pousada Brisa do Mar, na turística cidade de Itacaré.
Antonieta Bacelar, a Niêta de Ipiaú, tinha algo de Tiêta do Agreste, celebre personagem do escritor Jorge Amado e poderia muito bem inspira-lo em mais um extraordinário romance. História não faltaria para contar. (Giro/José Américo Castro)