
*Artigo/Por Rama Amaral
É indiscutível o papel que os alimentos tiveram e têm no processo de desenvolvimento da espécie humana, bem como sua influência e importância estratégica na organização das sociedades. As facilidades ou os obstáculos no acesso aos alimentos, ao longo do processo evolutivo, foram essenciais para o equilíbrio e o desaparecimento de diversas formas de vida, assim como para as mudanças nas organizações políticas. É interessante mencionar que há correntes de pesquisadores que defendem que a evolução das espécies — sobretudo da humana, em relação a outros primatas — decorre da capacidade de influir e dominar a cadeia alimentar.
Ora, se a alimentação apresenta toda uma complexidade e permanece constantemente em estudo, então aspectos culturais, sociais e sensoriais também levantam questionamentos sobre a importância do “comer”. Alimentar-se, desde os tempos antigos, envolve simbolismos, e, numa sociedade em intensas transformações como a nossa, cuidar da boa alimentação e da qualidade dos alimentos significa muito mais que “saber o que comer”. Representa também preservar costumes, modos de vida, tradições, aromas, qualidades — tudo isso em favor da saúde, da vida e da própria dignidade humana. Portanto, “comer” é filosofia, sociologia, antropologia, e, sobretudo, nutricionismo, gastronomia, arte, história, vivência e sobrevivência.
Diante dessa natural e racional sabedoria envolvendo a alimentação, discutir alimentos alternativos na contemporaneidade é suscitar novas perspectivas de sustentabilidade — especialmente quando falamos de culturas nativas, como a da jaca. A riqueza nutricional e o potencial econômico que essa fruta oferece despertam a valorização de saberes tradicionais dos povos e lugares, além da preservação ambiental. A jaca, além de alimento tradicional da “roça”, é também um instrumento social, pois reúne famílias, trabalhadores, grupos e gera comercialização — ou seja, promove interação e economia, elementos fundamentais da cadeia alimentar.
Por isso, é importante discutir e implementar a jaca na alimentação escolar, não apenas como alternativa nutricional de baixo custo e de alto valor nutritivo e ambiental — como articula o Instituto SOS Rio das Contas por meio do CONJASP (Congresso A Jaca e Suas Potencialidades), cujos últimos eventos incluíram um seminário na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cruz das Almas, ratificado por uma audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia, conduzida pela deputada Fátima Nunes com a participação de instituições, lideranças e sociedade civil — mas também como medida de segurança alimentar, já que a jaqueira é uma planta resistente às intempéries, a doenças e aos agrotóxicos, reduzindo riscos de contaminação dos frutos.
É preciso lembrar que a jaca já faz parte da culinária brasileira e que pratos e sabores derivados dessa rica fruta enaltecem a sabedoria popular e fortalecem a segurança alimentar, por reunir qualidades culturais e nutricionais. Diante disso, proponho que toda a sociedade baiana apoie essa nobre causa em favor da vida e de um alimento sem agrotóxicos e com qualidade na alimentação escolar. Desafio, inclusive, especialistas em alimentação, gestores públicos e secretários — principalmente da área da educação — a criarem projetos-piloto com a jaca e seus derivados: pratos, cheiros e sabores. Enfim, precisamos ser mais estratégicos e plurais nas ideias e nas decisões. Implementar a jaca na alimentação escolar significa adotar uma medida alternativa e segura de alimentação coletiva. Aliás, tal decisão só enriquecerá ainda mais a culinária baiana e brasileira, até porque, como diz o ditado: “Ninguém come jaca sozinho” — come-se com a família, com os amigos, com os colegas de trabalho…
Então, enquanto há tempo, queremos e podemos: “Jaca na alimentação escolar já!”
Fontes: Google
Rama Amaral é cidadão brasileiro, poeta e come jaca desde a infância. Não sente vergonha de pessoas que não comem ou que desprezam a fruta por acharem que “jaca é coisa de gente da roça”.