*Por José Américo Castro
Ele nasceu na zona rural do município de Ibirataia, morou na Rua dos Artistas e ganhou fama tocando no Carrapato, antiga zona boemia desta cidade. Aos três anos de idade ficou cego e na velhice contraiu diabetes, doença que contribuiu para que tivesse a perna esquerda amputada.
Em sua existência tiveram muitos outros contratempos, mas nada disso lhe impediu de ser feliz. De nada reclama, desconhece depressão, valoriza a vida e está sempre agradecendo pelo dom que Deus lhe deu. Os dedos deslizam nos teclados, a mão puxa o fole com precisão cirúrgica. O som ecoa na vastidão.
Carlinhos, o ceguinho sanfoneiro estende o olhar vazio, enxerga além, pelo sentimento, com a luz que vem de dentro do seu espírito, com a essência do existir.
Manoel Carlos Rodrigues Santana, “Carlinhos da Sanfona”, tem 68 anos, e por força das circunstâncias deixou de animar festas, farrear até o dia raiar. Emendar com a próxima noite e continuar tocando, como já fez inúmeras vezes no cumprimento do oficio, atendendo pedidos de amigos, cumprindo a missão que lhe foi dada pelo destino.
Atualmente vive em um quarto da casa da sua sobrinha Nilzete, na Fazenda Palestrina, interior de Ipiaú. Quando não está ouvindo as emissoras de rádio ou o canto dos pássaros que existem no lugar, recorre à velha sanfona e se revaloriza.
Evoca lembranças, reconstitui sua história. Recorda de como foi conduzido à musicalidade, dos primeiros instrumentos, de quem tocava com ele, de quem lhe foi generoso, dos eventos onde reinou. (mais…)