Foi no grito que Jucineia Queiroz dos Santos, a “Néia do Tempero”, entrou para o seleto clube das personalidades folclóricas de Ipiaú. “Olha o tempero… olha o tempero freguesa… Assim, há 11 anos, ela merca nas ruas da cidade o produto que garante a sua sobrevivência e o sustento das três filhas menores.
O tempero verde (alface, coentro, cebolinha e outras verduras) vem da Horta Comunitária, é conduzido numa galeota e lhe rende até R$200,00, de comissão, por semana. A batalha começa às seis horas estendendo-se durante boa parte do dia.
Nessa rotina encontra amigos, incompreensões e concorrência, sendo esta cada vez maior. O jeito de anunciar a mercadoria não tardou a ser imitado, mas ninguém conseguiu superar a sua firmeza no grito. : “A original sou eu”, assegura.
Como tudo começou, ela lembra: “Tava empurrando o carrinho cheio de tempero e não aparecia comprador. Olhei pros quatro cantos da praça e gritei forte: olha o tempero freguesa… Quando a garganta dói, a marcadora cura com chá de romã. “Gargarejo de noite e no outro dia estou boa”.
Moradora da Segunda Travessa Adenor Soares, no Bairro Novo, “Néia do Tempero”, tem um jeito atrevido de ser. Não leva desaforo pra casa e está sempre com uma resposta na ponta da língua.
Um dia na Rua da Batateira, um homem reclamou que os gritos de Néia estavam lhe perturbando o sono. Não tardou a ouvir: – “Tá achando ruim, então me dá um serviço melhor”. De outra vez a reclamação partiu do prefeito Deraldino que do alto da sua residência no Bairro da Conceição, bradou: “Êta mulher zuadenta! Veio o troco: – O senhor reclama aí de cima porque tem tudo nas mãos, mas eu tenho que buscar meu ganha pão é no grito”. Depois disso o então prefeito ficou freguês da mulher do tempero.
É assim no grito que Neia vem ganhando a vida, criando as filhas, fazendo história. Ao lhe entrevistar perguntei : Qual é o tempero da vida? E ela, cheia de sabedoria, respondeu: – O tempero da vida é o Amor. (Giro/José Américo Castro)