*Por José Américo Castro
Erguido nos primórdios de Ipiaú, quando a localidade se chamava Vila de Rio Novo, o imponente casarão da Rua Castro Alves, antiga Rua da Jaqueira, foi morada de diversas famílias e abrigou a primeira escola pública estadual da localidade.
Muita história ali foi protagonizada, muitas estórias contadas pelos seus antigos moradores em redor da grande mesa da sala de jantar. Tinha alguma coisa do romance Cem Anos de Solidão, livro marcante do escritor colombiano Gabriel García Márquez.
Não sei explicar a razão desse meu entender. Talvez pela sua linha arquitetônica em sintonia com o realismo mágico da obra. Sempre o olhei com admiração, mesmo em velhas fotografias. Via ali algum mistério, encanto, encontro com origens, testemunho de um tempo passado desvendado num repente do presente.
Chovia muito e a rua quase sempre era enlameada. No verão com estiagem prolongada era a poeira que prevalecia. De vez em quando um redemoinho levantava a poeira, arrancava chapéus e outras partículas mais leves.
O casarão foi construído por Moysés Ferreira Santos, um dos pioneiros que aqui chegaram. Ele veio de Camamu, com a missão de ocupar cargo importante no incipiente Distrito de Alfredo Martins, também chamado de Rapatição. Muito contribuiu com o crescimento do lugar.
Na condição de responsável pela Escrivaninha de Paz, cuidava dos registros de nascimento, casamento, óbito, escritura, procurações, reconhecimento de firmas e autenticação de documentos. Natural de Timbó, atual município de Esplanada, Moysés Ferreira dos Santos tornara-se por muito tempo a principal figura do lugarejo, conforme cita o historiador Clemilton Andrade, que assim traçou o perfil do ilustre personagem: “Indivíduo de estatura alta, bem nutrido, alegre, simpático, dada a representação do seu cargo”.
Moysés tinha cabeleira vasta, lisa e desde cedo branca. Sua voz e risada eram estridentes e sua verve humorística, pornográfica, dominava o ambiente. Ele teve dois casamentos. (mais…)