“A Máquina Pra Governar Ipiaú”. Com este slogan, adotado na campanha eleitoral de 1982 quando concorreu a prefeito do município, pelo PDS, o jornalista João Rocha Sales, 88 anos, mais conhecido como “Joanito da Gráfica”, imprimiu, definitivamente, seu nome no folclore político da cidade. A máquina a que ele fazia apologia não era uma locomotiva, como muitos pensam, e sim a velha impressora do memorável Jornal de Ipiaú, periódico tipográfico que circulava quinzenalmente desde o ano de 1960.
Dos quatro concorrentes à Prefeitura, naquela eleição (vencida por Hildebrando Nunes Rezende-PMDB- com 800 votos de frente), Joanito foi o menos votado. Nem por isso sentiu-se derrotado, ao contrário, caiu nas graças do povo
e cresceu no anedotário regional. Num certo comício em que dividiu palanque com Waldemar Sampaio e Miguel Coutinho, os dois outros candidatos da oposição, um cabo eleitoral se prontificou a carregar Miguel em seu cangote. O voluntario se preparava para a missão honrosa quando Joanito, entendendo ser para ele tamanha cortesia, pulou na montaria e ergueu os braços saudando a multidão. De outra vez repetiu o gesto ao avistar um rapaz que se encontrava, de cócoras, amarrando o cadarço do sapato.
A história de Joanito começa na cidade de Alagoinhas, onde nasceu. Ainda jovem trabalhou em uma tipografia e se interessou pelo jornalismo. Ralou muito até editar a sua própria gazeta. Por sua linha oposicionista “O Nordeste” foi “empastelado”, a mando do chefe político local. Contrariado com a situação, Joanito mudou-se para o sul da Bahia, estabelecendo-se em Ubatã onde fundou, em junho de 1958, o “Jornal de Ubatã”, cujo redator era Adauto Barbalho.
Dois anos depois fundou o Jornal de Ipiaú, cuja tiragem era de mil exemplares e uma equipe de colunistas do calibre de Euclides Neto, Altino Cerqueira, Edvaldo Santiago (Tatai) e Protogenes Jaqueira. Campanhas memoráveis, a exemplo da aquisição da Fundação Hospitalar, construção da arquibancada do Estádio Pedro Caetano e emancipação política de Ibirataia foram encampadas pelo Jornal de Ipiaú. Joanito vivia, então, seus melhores dias. Assistiu a Copa do Mundo, em 1974, na Alemanha, tinha fazenda, gráfica, carrão da moda (a memorável Veraneio Azul) e outros bens patrimoniais. Frequentava bordeis, rodas de coronéis, e sonhava com um cargo eletivo.
A palavra “realmente” sempre esteve presente nos discursos de Joanito. Apesar do grande entusiasmo ele nunca convenceu o eleitorado, nem mesmo quando candidato a vereador. Perdeu eleições, mas preservou a esperança. Ainda hoje acredita ser um líder carismático e não duvida das pesquisas que a cada campanha lhe apontam como o favorito a ganhar o pleito. Os responsáveis por tais previas eleitorais nem imaginam que essas brincadeiras o mantém vivo, reacendem sua honra do cidadão participativo.
Nessas ocasiões Joanito é cumprimentado, aplaudido, taxado de “poca-urna”, imbatível. Ilusão aguçada, máquina lubrificada, ele negocia, propõe conchavos, promete cargos, benfeitorias, grandes projetos. Imprime sonhos, reedita momentos que nunca existiram, mas realmente lhe fazem feliz. Abrem-se as urnas: os milhares de votos esperados
não aparecem. Sem perder a pose, argumenta que foi garfado. Pouco importa a derrota, a luta continua. Na próxima eleição estará mais forte, mais atrevido, mais Joanito. Com suas pernas compridas percorre a cidade para testar a popularidade e estimular instintos machistas. Se alguém lhe questiona a idade avançada, a resposta é repentina: “Galo véi quando perde a espora vai é de bico”. (Giro/José Américo Castro)