Com mais de 50 anos de atividades no comercio de Ipiaú, dona Maria de Lurdes Morais Moreira, 71 anos, se tornou famosa pela comercialização do produto conhecido como fumo de rolo. Graças a isso ganhou o apelido de “Maria do Fumo”, com o qual passou a ser identificada e entrou definitivamente no folclore da cidade. Sua história é de superação e sempre esteve pautada na força do trabalho, mas também encontra na irreverência um jeito especial de ser. Desbocada, descolada, presepeira, dona Maria propaga : “Eu meto fumo no povo”.
Pernambucana de São Bento do Una, Maria do Fumo passou por muitas dificuldades na vida. Foi retirante da seca, dormiu em baixo de uma loca, armou arapuca para capturar passarinho e se alimentar, pegou em foice, machado, estrovenga, labutou de todo o jeito, desde os 10 anos de idade. Do seu currículo também consta a função de propagandista e vendedora de folhetins da literatura de cordel.
Foi vendendo, nas feiras livres nordestinas, os romances do “Pavão Misterioso”, “A Filha que Bateu na Mãe e Virou Cachorra”, “A Chegada de Lampião no Inferno”, dentre outros títulos do gênero, que juntou dinheiro suficiente para adquirir uma casa, a qual depois trocou por sete toneladas de fumo de rolo. Fretou um caminhão e transportou a carga até Ipiaú. O povo da zona rural comprava fumo fiado e pagava com lenha e carvão das matas derrubadas para o plantio de roças de cacau, daí ela dizer que ajudou a abrir muitas fazendas na região.
Com fibra e coragem, dona Maria meteu a mão na massa, fez tijolos, telhas, e construiu, nesta cidade, a sonhada casa própria. Com o correr do tempo o seu ponto de venda, na Rua do Sapo, ganhou dimensão de loja, a “Força Total”, onde se pode encontrar uma infinidade de itens populares. Ervas medicinais, defumadores, pembas, infusões, artesanatos, etc.., superlotam a prateleiras. Também não falta a sua marca registrada; o famoso fumo de rolo.
Explicando como mete o fumo no povo, Maria diz: “Meto o fumo no povo, pela venta, pela boca e pela bunda. Pela venta com o pó de rapé; pela boca com o cigarro e pela bunda como remédio para hemorroidas”.
*José Américo Castro / Giro Ipiaú