“A contracultura avançava com suas efervescentes ramificações, a exemplo do tropicalismo, quando deram por conta, na região de Ipiaú, da figura exótica de Ripa, um negro octogenário, truculento e fisicamente saudável que diziam ser louco. Quando bebia umas pingas Ripa aprontava cenas que atemorizavam as pessoas das cidades onde passava. Nos comentários sobre os personagens da rua, sua figura é sempre evocada”, as citações são do escritor e cineasta Lula Martins, em seu livro “Mágicas Mentiras”, e trazem a lembrança de uma antiga personalidade folclórica da região. Muita gente ainda recorda de Ripa, com seus trajes ancestrais e um jeito de realeza africana, caminhando pelas ruas de Ipiaú. Metia medo e ao mesmo tempo fascinava.
Dizem que era tropeiro antes de escolher a vida errante e mística. Com a primeira função estavam relacionados os gritos que dava ao cruzar os arruados e veredas. Já o misticismo provem das abstratas figuras pictóricas que esculpia nos barrancos e pedras que margeavam o antigo traçado da rodovia Ipiaú-Jequié. Seu instrumento nessa arte era um pedaço de facão.
Primitivo, Ripa dormia em cavernas e nas noites de lua cheia cantava tiranas junto à uma fogueira. Seu jeito excêntrico chamou a atenção do cineasta Lula Martins que produziu um documentário de curta metragem tendo como tema a sua arte e sua vida. Nessa ocasião o cineasta descobriu que o verdadeiro nome de Ripa era Teotônio Bispo dos Santos e que ele havia dito que nos painéis que esculpia estavam escritas as palavras de Deus.
Do cartaz do documentário de Lula Martins colhemos a foto de Ripa. A trilha sonora desse documentário que foi exibido na Jornada de Curta Metragem da Bahia (produzida por Guido Araújo) é da autoria do famoso percussionista Djalma Correia. (Giro/José Américo Castro)