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Indígena de 17 anos é morto a tiros em reserva no sul da Bahia

Foto: Reprodução

Um adolescente indígena de 17 anos foi morto a tiros no sábado (15), em uma área de proteção em Pau Brasil, cidade no sul da Bahia. O rapaz foi identificado como Daniel de Sousa Santos. Segundo a Polícia Civil do município, o suspeito se apresentou na delegacia de Camacan nesta segunda-feira (17).

O nome do suspeito não foi divulgado, mas, de acordo com a polícia, ele é filho da prefeita da cidade. No depoimento prestado nesta segunda-feira, ele teria alegado legítima defesa e sido liberado em seguida, pois estava fora do prazo de flagrante. Ainda segundo a polícia da cidade, o homem trabalhava no ramo da engenharia e tinha posse de arma de fogo. A arma utilizada no crime foi encaminhada para a perícia.

O caso ainda está sendo investigado e, por isso, testemunhas estão sendo ouvidas e imagens de câmeras de segurança serão analisadas.

Histórico de violência no extremo sul

No dia 4 de setembro do ano passado, o jovem Gustavo da Silva foi morto a tiros em uma fazenda no município de Prado, no extremo sul da Bahia. Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), o registro é fruto de invasão do Território Indígena (TI) Comexatibá por grupo de pistoleiros, com ao menos cinco homens armados com armas calibre 12, 32, fuzil ponto 40 e bomba de gás lacrimogêneo. No conflito, os invasores ainda alvejaram outro adolescente, com um tiro no braço e outro de raspão.

Secretário de Assuntos Indígenas do Prado, Xawâ Pataxó conta que o grupo de grileiros somava mais de cinco homens em dois carros. A invasão do Território Indígena Comexatibá aconteceu após retomada indígena de terras em 1º de setembro. A situação se acirrou depois da iniciativa de reconquista de territórios originários.

“Muitos indígenas estão com medo, alguns estão em aldeias nos interiores mais próximos à floresta no próprio território e outros estão amedrontados sem poder sair de suas comunidades até para comprar alimento. Estão com dificuldade em comprar alimento porque se [saírem dos territórios] correm risco de ser mortos”, denuncia.

A APIB ainda aponta para a falta de demarcação no território tradicional Pataxó. “Cansados de esperar, no mês de junho de 2022, aconteceu a ocupação pacífica de uma área do território que era explorada pela monocultura de eucalipto. A partir de então, houve vários ataques aos Pataxó […] mas sem quaisquer providências por parte dos órgãos públicos de segurança”.

Dias após a morte de Gustavo Conceição da Silva, de 14 anos, pistoleiros fizeram duas invasões à comunidade Pataxó Aldeia Nova, no TI Barra Velha, em Porto Seguro. Nos dois casos não houve feridos, já que os indígenas se refugiaram quando as invasões começaram.

“Como a gente não tem arma e viu movimentação estranha, a gente falou com famílias para estar recuando. [Os pistoleiros] derrubaram portas, invadiram casas”, disse o cacique Purinã Pataxó à época. Ele afirma que o objetivo da invasão foi amedrontar a comunidade e assassiná-lo, visto que é o líder na região.