Giro Ipiaú

Seu Valdomiro no processo histórico de Ipiaú

Seu Valdomiro

Na data de 2 de dezembro de 2023, Ipiaú completará 90 anos de emancipação política. Até lá estaremos veiculando uma série de matérias com cidadãos das camadas populares da comunidade que prestaram relevantes serviços ao município e deram valiosa contribuição ao seu processo sociocultural. Contudo, até então, essas personalidades não tem recebido os devidos reconhecimentos. Faremos a nossa parte.

Valdomiro Anécio da Silva, 81 anos, natural de Itagibá, ingressou no quadro de funcionários da Prefeitura Municipal de Ipiaú durante a revolucionária gestão de Euclides Neto. Nesse período, seu Vadomiro contribuiu com a edificação das primeiras casas e aberturas de ruas que deram origem ao Bairro da Democracia.

Tomou conta do “Curral do Conselho”, local onde eram colocados animais de grande porte que perambulavam pelas ruas da cidade, abriu valetas para a implantação de redes de esgoto, realizou outras funções, nas sucessivas administrações, até chegar à condição de coveiro no Cemitério Velho.

Coveiro

Foram 28 anos cavando sepulturas, enterrando cadáveres, engavetando notáveis, ouvindo prantos, piadas, removendo ossadas, aguentando os odores da putrefação, plantando flores no campo santo e até colhendo frutos das arvores que nasceram naquele terreno fértil.

Seu Valdomiro diz ter visto muita coisa, menos assombração. ”Os mortos em nada assustam. Os vivos é que metem medo”, assegura o velho coveiro. Uma vez ele se deparou com um homem dormindo no interior de um túmulo vazio. O sujeito estava todo enrolado e alegou que não tinha encontrado outro lugar para o repouso que necessitava.

Cantador de Reis

Com a família ensaiando a Cantoria de Reis

Outro aspecto da vida de seu Valdomiro é a condição de cantador de reis. A arte da emblemática folia ele repassou para o filho Gilvan, também conhecido como “Gaso Véi”, 64 anos, que por sua vez vem estimulando seus descendente a manter a tradição folclórica. Gaso Véi também foi coveiro e levou um tempo atuando como carroceiro.

Na casa onde moram, na Avenida Pensilvânia, periferia da cidade, eles guardam seus pandeiros e estão sempre dispostos a ensaiar a cantoria que inevitavelmente conta com a participação de dona Carmelita, a esposa de seu Valdomiro e matriarca da família.

O trio é remanescente do grupo de Zaqueu que morava na rua Cantinho do Céu e nunca deixava de comemorar a visita dos três Reis Magos ao menino Jesus. A folia começava no dia 24 de dezembro (véspera do nascimento de Jesus) e prosseguia até 6 de janeiro, data na qual os Reis Magos chegaram a Belém. Com dezenas de pessoas o cortejo percorria a cidade, adentrando em residências onde armavam o presépio. E assim prosseguia até o dia amanhecer. (José Américo Castro/Giro Ipiaú)