Giro Ipiaú

A trajetória de Humberto Cabeleira no futebol, na música e no amor à Ipiaú

Humberto na atualidade

Ele brilhou tanto nos campos de futebol quanto nos palcos da música. Jogou em clubes amadores e profissionais. Cantou em bandas de bailes, encantou plateias, conquistou corações, despertou paixões, testemunhou momentos importantes da história de Ipiaú.

Conviveu com celebridades, mostrou sua impetuosidade montando em burro brabo, pegando boi à mão, atravessando o Rio das Contas em grandes enchentes, brigando com valentes. Teve seus momentos de administrador e até se arriscou na política.

Na Seleção de Ipiaú e no Independente

Participou de uma final do famoso programa “A Grande Chance”, apresentado por Flávio Cavalcante na extinta TV Tupi. Obteve boa pontuação, mas não venceu, nem ficou entre os três primeiros lugares, porque tinha como concorrentes, o magnífico Emílio Santiago e as fabulosas Maria Creuza e Joana. Em compensação sua imagem de galã e sua potente voz teve difusão nacional.

Humberto Montanha Castro, primogênito dos 11 filhos (todos vivos) de Dorgival Almeida Castro e Leticia Conceição Aragão Montanha Castro, neto de Domingos Gonçalves Castro, um dos fundadores de Ipiaú, e de Vicente Júlio Aragão, homem culto e educado que muito contribuiu com o processo de emancipação deste município, é mesmo uma grande figura.

Conviveu com umas dez mulheres, gerou sete filhos, teve inúmeras namoradas, mas no momento se encontra solteiro.

Cantando no Bispão

Aos 77 anos Humberto Montanha Castro, “Cabeleira” como era conhecido no meio futebolístico, ou “Bebeto Caprioli”, nome artístico que adotou, nos concedeu entrevista, lembrando de alguns momentos importantes da sua vida de atleta, artista e cidadão.

Ele comenta seus momentos de glória no Independente Esporte e Cultura, no Flamengo de Jequié, assim como no Itabuna e outros clubes. Também diz dos tempos de crooner nos conjuntos musicais Apollo 9 e Bispão Bossa e Balanço e de outras experiências em sua bem curtida existência. A seguir acompanhe a entrevista com Humberto Cabeleira

Zé Américo- Dois pilares: o futebol e a música, são marcantes em sua trajetória. De onde vem essas influências?

Humberto – Quando eu tinha 10 anos de idade meus pais me colocaram no internato do Colégio Antônio Vieira, em Salvador, onde obtive algumas formações, inclusive as regras do futebol e introdução na pratica deste esporte. Logo me destaquei no time dos menores. Na mesma época também estavam por lá Helenilson Chaves que se tornou um grande empresário e Antônio Muniz, filho Manoel Muniz Oliveira, ex-prefeito de Barra do Rocha. Os dois nunca se ligaram na bola. Acho que veio daí a minha paixão pelo futebol. Agora a música tem explicação na genética.

Zé Américo – Como?

Meu avô materno, Vicente Júlio Aragão, “seu Julinho” tocava saxofone, clarineta, escrevia partituras. Minha mãe, Leticia Conceição, cantava, tocava piano e violão, tinha seus dotes artísticos. Chegou a gravar um disco.

Zé Américo- Mas futebol pra valer aconteceu a partir de quando?

Humberto Castro – Seu Rubens Ribeiro, formou um time de adolescentes que jogava em várias cidades da região de Ipiaú. Não me lembro o nome da equipe, mas sei que tinha craques como Pedrito, Tonhe Barbosa e outros. Naquela época eu jogava de centroavante. Tempos depois ingressei no Comerciários, de seu Gugú (Hugulino Borges de Barros), e daí fui para o Independente onde conquistei alguns títulos e atuei ao lado de grandes jogadores. Às vezes formava a zaga com Everaldo Barbosa e em outras vezes com João Grilo. Quando entravam os dois eu ia para a lateral.

Zé Américo – E na Seleção de Ipiaú?

Humberto- Fui titular da primeira seleção que disputou o Campeonato Intermunicipal em 1968 e na que foi campeã do Intermunicipal em 1972.

No Flamengo de Jequié

Zé Américo – Fale dessas duas formações do escrete ipiauense

Humberto – No time pioneiro jogavam; Gilberto Podão, Joca, João Grilo, Eu ( Humberto), Huguinho. MacDonald, Cardoso, Lourinho Parteira, Tanajura, Davi Macaco e Wilson de Ariston. Já no time campeão do Intermunicipal em 72, cuja final contra Cachoeira foi no início de 1973, estavam: Natan, Nena, Pedrito, Humberto, Mosquito, Bidinho. Di, Bueiro, Jorge Campos, Pio e Xavier.

Na Seleção de Ipiaú em 1972

Zé Américo – Soube que você foi um dos destaques na conquista desse título

Humberto – O time todo era destaque, dos titulares aos reservas. Cada um melhor que o outro, mas aconteceu que eu e Jorge Campos fomos convidados para fazer teste no Bahia. Fiquei um tempo por lá, no “come e dorme”, até que desistir. Disputar posição com Roberto Rebouças e Sapatão era missão impossível. Jorge Campos ficou e decolou. Foi ídolo da torcida e jogou em outros grandes clubes do Brasil.

Zé Américo – E a homenagem que vocês dois receberam no programa de França Teixeira, na Rádio Cultura da Bahia?

Humberto – Concedemos entrevista e ganhamos prêmios. Eu ganhei uma bicicleta e Jorge Campos um colchão.

Zé Américo – E depois?

Humberto – O empresário Daniel Pinto me levou para fazer testes em alguns times do centro-oeste e sul do Brasil, mas a convite do presidente do Itabuna, Gabriel Nunes, fiquei nessa equipe grapiúna que foi vice-campeão baiano de profissionais em 1970. Só não ganhou o título porque teve maracutaia na Federação Baiana que deixou a decisão com o Bahia para meses depois. Enquanto o Bahia disputava o campeonato nacional, o Itabuna ficou na geladeira e foi perdendo a motivação. Muitos jogadores se desligaram do clube e na final sofremos duas goleadas. Dizem que o goleiro Betinh se vendeu. A tal da manipulação de resultados já estava em ação.

No Itabuna

Zé Américo – Você foi titular no Itabuna?

Humberto – Não. Era quase impossível entrar naquele timaço que tinha Americano, Caxinguelê, Chuvisco, Reizinho, Tombinho e outras feras. Entrei em algumas partidas. Uma delas foi contra o Leôncio.

Zé Américo – O que me diz do timão do Flamengo de Jequié?

Humberto – Era outra equipe fabulosa. Dilermando, Edmilson, Betão, Zé Augusto, Eu (Cabeleira), Zé do Bife, Pascoal, Bara, Dete Leão e Marcos, foram os titulares de uma das formações mais competitivas do rubro negro jequiéense.

Zé Américo – Quem era melhor, o Independente ou o Flamengo?

Humberto – Os dois eram bons e poderosos. Cada um tinha a sua característica. Às vezes o Flamengo buscava reforço no Independente e vice-versa.

Zé Américo – Qual o seu time nacional?

Humberto – O Flamengo do Rio de Janeiro.

Zé Américo – Em quais outros times você jogou?

Humberto – Tive ainda uma rápida passagem no Atlético Goianiense e no Figueirense de Santa Catarina. Em ambos amarguei contusões e nem cheguei a atuar. Como amador também joguei no Paturí, de Ubatã, criado pelo pessoal da Usina do Funil, no Ipiaú, no Fluminense de Homero, em Itagibá, e em muitas outras equipes na Bahia. Também joguei num time de Campos, no Rio de Janeiro.

Zé Américo – Você disse que jogou no Ipiaú, o maior rival do Independente. Explique isso?

Humberto Castro – Foi apenas uma vez. Estava morando em Salvador e Tonhe do Galo, dirigente do Ipiaú, foi me buscar para esse jogo que, por ironia do destino, foi contra o Independente.

Cantando no conjunto Bispão, Bolsa e Balanço

Zé Américo – E o cantor Bebeto Caprioli nos bailes da vida?

Humberto – Fui crooner do Conjunto Apollo que depois se transformou no Joedson. Cantei muito no Rio Novo Tênis Clube junto com Sabiá, João Araújo, mestre Osório. Nas micaretas era aquela empolgação. Uma vez fui dá uma canja no conjunto Bispão Bossa e Balanço e fiquei por lá durante mais de um ano. Também fiz temporadas na Boate Mug, em Brasília, e no Pianos Bar, em Campos dos Goytacazes, RJ.

Zé Américo – E a experiência de participar do programa “A Grande Chance, apresentado por Flávio Cavalcante na TV Tupy?

Humberto – Primeiro foi classificado na etapa baiana (“A Caminho de Grande Chance”), na TV Itapoã. Daí fui para o Rio de Janeiro e levei para me acompanhar o tarimbado tecladista Perna Froes. Cantei a música “Eu preciso Aprender a Ser Só”, e fui bem pontuado. Recebi a nota 4 do jurado José Fernandes, o terror dos calouros. Na maioria das vezes ela dava no máximo a nota 1.

Zé Américo – Apesar disso tinha uma pedra no caminho

Humberto- Uma pedreira. Emilio Santiago que foi o vencedor, Maria Creuza, Joana … Tudo pedra preciosa, rsrs.

Zé Américo – Quais foram seus ídolos no futebol e na música?

Humberto- No futebol Pelé, “O Rei “. Assisti ele jogar muitas vezes. Estava no Maracanã quando ele fez o milésimo gol. Pelé foi a expressão máxima do futebol. Na música fico com Roberto Carlos que também é rei.

Zé Américo – Informações dão conta de que você tentou uma carreira política.

Humberto Castro – Fui candidato a vereador em Campos. Nessa cidade também fui chefe da agência regional do Funrural, durante 11 anos, e fiz boas amizades no meio político.

Zé Américo – Essa experiência de gestão empresarial se estendeu por mais aonde?

Humberto Castro – No Terraço Bar e Restaurante, na Boate Flor de Lis, em Ipiaú, e na fazenda Dois Morros, em Ibirataia, criando gado leiteiro, muares (jumento pêga) para montarias, e cavalos, em um haras. além da cacauicultura.

Zé Américo – E Ipiaú?

Humberto- É o meu bem querer, minha razão de viver, o lugar onde eu nasci e fiz os melhores amigos. Onde estão minhas raízes. Meu nascimento aconteceu no dia 18 de janeiro de 1945, no Casarão construído por meu avô Domingos Castro, um homem de determinação, coragem e sensibilidade. Contava histórias e recitava poesias de Castro Alves.

*Por José Américo Castro