Giro Ipiaú

Dona Zita da Fundação: personagem histórica do município de Ipiaú

Aos 90 anos vive tranquila e feliz

Aos 90 anos, mesma idade da emancipação política de Ipiaú, Maria Elzita de Oliveira Ferreira, mais conhecida como dona Zita da Fundação é personagem histórica deste município. Sua trajetória é de luta, superação, abnegação. Dedicou boa parte da sua existência à instituição que lhe emprestou o complemento do apelido, ganhou o reconhecimento de muitos que estiveram ao seu lado e agora integra o elenco pioneiro das mulheres agraciadas com a Medalha Terezinha Nascimento criada pela Câmara Municipal de Ipiaú para homenagear aquelas que se destacam pelos relevantes serviços prestados à população.

Na solenidade de formatura

Dona Zita nasceu na data de 27 de abril de 1933, ano da instalação oficial do município de Ipiaú. Ela é natural da Serra do Baltazar, zona rural de Brejões, região agreste do sudoeste baiano. Seus pais se chamavam Félix Batista Ferreira e Maria Jacinta de Oliveira Ferreira. A família dedicava-se ao cultivo do café.

Morou em Salvador, Caetité, Vitória da Conquista e Itapetinga. Chegou em Ipiaú em 22 de junho de 1967. Na capital baiana, habitou no bairro da Liberdade e trabalhou com o advogado e deputado estadual Raimundo Magaldi -PDC- (1959-1963).

Nesse período iniciou, no Instituto Valença, localizado no Campo da Pólvora, o curso de Contabilidade que só veio a ser concluído, anos depois, em Ipiaú.

Em 10 de janeiro de 1962 casou-se, na Igreja da Lapinha, com o dentista prático Joaquim Almeida Souza, o qual também era servidor público federal, na condição de funcionário dos Correios, e negociante de pedras semipreciosas. O casal teve quatro filhos, dos quais três chegaram a idade adulta, embora somente um, Maria Helena (Leninha) esteja em vida.

Claudio Citrine (Cacau) faleceu no dia 21 de julho do ano 2000, enquanto a morte de Joaquin Georgenes (Joca) ocorreu em 14 de junho de 2017. Claudia Esmeralda, gêmea de Cacau, morreu com a idade de dois meses.

Em Caetité, onde nasceram Joca e Leninha, o casal foi vizinho da família do cantor Waldick Soriano. Joca, o primogênito era afilhado de Waldemar Soriano, irmão de Waldick. O famoso intérprete de boleros fez boa amizade com dona Zita.

De Caetité eles foram morar em Itapetinga e nesta cidade nasceram os gêmeos Claudio Citrine e Claudia Esmeralda. Além dos seus filhos biológicos, dona Zita ajudou a criar três dos nove filhos que o marido Joaquin teve em um casamento anterior.

O relacionamento com Joaquim Almeida Souza passou a ser tumultuado. Dele, dona Zita sofria agressões físicas e morais. Chegou a um ponto que foi preciso abandonar o lar e fugir. A fuga foi custeada por um irmão do agressor.

Deixando Itapetinga, com três filhos menores, ela fixou residência em Ipiaú onde já estava morando seu pai e irmãos. Garantia o sustento da família fazendo costuras e vendendo comida em uma barraca na antiga feira livre da cidade. Ela mesmo preparava o alimento que era consumido por outros feirantes e o pessoal da zona rural.

Fundação Hospitalar de Ipiaú

Em 5 de agosto de 1968, a pedido do seu irmão, o comerciante José Oliveira Ferreira (Louro do Armazém) ingressou na Fundação Hospitalar de Ipiaú. O diretor da unidade era o médico Juvêncio de Alencar Godin. Louro gozava de muito prestigio em Ipiaú e chegou a ser vice-prefeito do município.

A Fundação tinha pouco tempo de inaugurada e contava apenas com oito funcionários: Tertuliana de Almeida Cunha(Dona Tuquinha), Luci Queiroz de Souza, cedida pela Prefeitura, o motorista Adalberto Dias Novo, o eletricista Ananias da Silva (Nane Guará) e Francisco Pereira Alves, office boy da instituição e pai da advogada Maria da Gloria Alves.

O quadro médico era constituído por Dr. Salvador da Matta, Dr. Nestor Mesquita, Dr. Eliezer, Dr. Aristóteles Dias da Fonseca e o recém formado Dr. Manoel Cândido, além de Dr, Juvencio.

Não demorou muito para dona Zita assumir a administração da unidade e se responsabilizar pela contabilidade da casa. Encarregava-se das compras e dos pagamentos. Pagava os salários em dia, inclusive o décimo terceiro. Cuidava de tudo com a maior responsabilidade e carinho. Após a conclusão do curso de Contabilidade, em 1975 , no Ginásio de Rio Novo, sentiu-se ainda mais preparada para o trabalho profissional.

No exercício dessa função permaneceu 28 anos, mas sua atuação na Fundação Hospitalar se estendeu por 32 anos consecutivos. Durante esse período só gozou de quatro férias. Ao aposentar-se em 1999, deixou 125 funcionários devidamente registrados. Saiu da ativa com a certeza do dever cumprido. Sem nada que desabonasse a sua conduta.
Dona Zita lamenta que parte da documentação histórica da Fundação Hospitalar de Ipiaú tenha desaparecido. “Dizem que foi queimada”, informa. Ela reclama da situação em que se encontra a unidade e alimenta a esperança de vê-la soerguida em plenitude.

“A Fundação é muito importante para Ipiaú. Muita gente ali nasceu, muitas vidas foram salvas naquele lugar, dezenas de médicos se tornaram profissionais de excelência após estagiarem por lá ”, comenta.

Dançando a valsa com Dr. Salvador da Matta

Com muito esforço, dona Zita comprou casa própria, na Avenida São Salvador, entretanto uma infiltração decorrente da rede de esgoto que ali passava, fez o prédio desabar e obrigar-lhe a mudar de endereço.

O prejuízo não lhe fez esmorecer. Com muita perseverança investiu na reconstrução do imóvel e nele voltou a morar. Os médicos da Fundação lhe ajudaram nessa tarefa e a Prefeitura nunca lhe pagou a indenização pelo dano causado.
Atualmente, dona Zita vive tranquila, costurando roupas de crianças, fazendo cortinas, jogando paciência e palavras cruzada, lendo a revista Veja, da qual é assinante, acompanhando o noticiário nacional e mundial.

Ela é dotada de excelente memória, goza de boa saúde, apesar de só ter um pulmão. O outro foi comprometido com o longo tempo aspirando fumaça de um velho fogão e lenha. Fica bem alegre quando recebe visitas de amigos, dentre quais os médicos Aloísio Leite, Luis Leite, Ubirajara Costa, Wolfran, Marcelo Costa e Valnei Pestana. Considera Ipiaú a sua terra amada, pois, segundo diz, aqui teve acolhimento, criou os filhos e obteve vitórias.