-Por José Américo Castro
Nenga do Ouro, sua marca na história de Ipiaú e região está relacionada a um dos metais mais preciosos do planeta e que tem sido usado como símbolo de pureza, valor, realeza e ostentação. O ouro foi agregado ao seu apelido e lhe fez conhecida, requisitada e respeitada. Comercializava joias, anéis, alianças, argolas. brincos, pulseiras, correntes e outros materiais de ouro 18 quilates (K).
Seu trabalho era itinerante, visitava a clientela em domicílio e também expunha sua mercadoria nas feiras livres. Competia num segmento que era em sua maioria explorado por homens e não se intimidava com as tentativas de discriminações.
Uma vez, lhe roubaram toda mercadoria preciosa, amargou o prejuízo, mas não esmoreceu. Deu a volta por cima e continuou na jornada que lhe permitiu ajudar seu marido a construir a casa própria, Travessa Jaime Tanajura 115 (antiga rua do campinho), sustentar a família e criar seis dos sete filhos que teve com o madeireiro Claudemiro Barros Meira. O casamento durou 19 anos, até 1970 quando aconteceu o divórcio.
A maioria dos filhos de dona Nenga conseguiu bons empregos nas principais estatais brasileiras. Atualmente dois se dedicam ao cultivo do cacau, o fruto de ouro da Bahia. A cada filho que se formava ela dava um anel de ouro com a pedra preciosa correspondente à graduação.
Batizada com o nome de Francisca Maria dos Santos Meira, dona Nenga do Ouro nasceu no dia 06 de abril de 1929, no município de Boa Nova e reside em Ipiaú desde 1957. Sua mãe, Maria José dos Santos, viveu 104 anos. A família tem histórico de longevidade.
Foi no ano de 1968 que dona Nenga começou a negociar com joias de ouro. Comprava a mercadoria em Aracajú, Jequié, Bom Jesus da Lapa e revendia na região de Ipiaú. Ia de casa em casa exibindo as joias, fechando o negócio, acertando prazos de pagamento. Anotava as vendas em uma caderneta.
Fazendeiros, políticos, doutores, trabalhadores de várias áreas formavam a sua freguesia que se estendia desde Ipiaú, até Jequié, Ubatã, Itagibá, Itagi e outras localidades. Viajava sozinha na sua Brasília verde e nada temia. Percorria estradas não pavimentadas, enfrentava atoleiros e outros obstáculos.
Toda precaução que tinha não era suficiente para evitar alguns calotes. Ganhou muito dinheiro, mas também acumulou prejuízos. Recebeu inúmeros cheques sem fundos, emitido por pessoas que ela achava dignas de confiança. Uma mulher que dizia residir em Uberlândia, MG, lhe comprou grande quantidade de ouro e pagou com um cheque que nunca conseguiu descontar.
Aos sábados montava barraca na feira livre e atendia os fregueses da zona rural. No estabelecimento vendia confecções e pasta para alisar cabelo, que ela mesma produzia. Mas não deixava de negociar o ouro 18. Um dia, na antiga feira livre da Praça Salvador da Matta sofreu outro grande prejuízo. A maleta repleta de joias que estava guardada no interior da barraca foi furtada. A cena se repetiu em descuido posterior.
A crise na lavoura cacaueira inibiu os antigos compradores e o jeito foi substituir gradativamente a nobre mercadoria por peças folheadas a ouro, como a Michelini. Não abriu totalmente mão do ouro 18K, porém diminuiu as compras para revenda. Às novas ofertas anexou bijuterias, perfumes, cosméticos da Avon e Christian Grey, roupas infantis e outros gêneros.
Atualmente, com 95 anos, Dona Nenga do Ouro, passa boa parte de seu tempo em uma fazenda no município de Maraú, mas vem a Ipiaú com frequência. Tem uma boa memória e se mantém saudável. Dorme e acorda cedo, preserva a fé cristã e os ensinos recebidos na PIB de Rio Novo. Gosta de ouvir músicas de Roberto Carlos e torce pelo Flamengo. O ouro continua reluzindo nas suas lembranças.
“Que sua jornada inspire a todos a abraçarem suas próprias vocações e a empreenderem com paixão e coragem, tal como ela fez durante toda a sua vida”, destaca sua filha, funcionária aposentada da Caixa, psicóloga e escritora, Cleusangela Barros. *José Américo Castro / GIRO IPIAÚ