*Por José Américo Castro
Frevos e dobrados ecoam nos salões e praças da saudade. A banda já não passa pela cidade e seu último regente seguiu para uma festa no céu. A ida se deu no dia 4 de junho de 1995. Ele foi em trilhas musicais compostas por Orfeu. Tinha então 76 anos de vida material.
Natural de Santo Antônio de Jesus, Osório Costa, nasceu no dia 25 de julho de 1919, sendo filho de Manoel Martiniano Costa e Josina Costa. Logo cedo foi atraído pela arte musical. Em 1947 chega em Ipiaú e ingressa no Jazz 15 de Maio, regido pelo seu conterrâneo Eulógio Santana, o “Mestre Lôla”.
Grande parte do grupo, inclusive o regente, também participava da filarmônica Alberto Pinto fundada em 1928 pelo músico homônimo e Major da Guarda Nacional.
A sensibilidade e maestria de Osório na execução do sax-tenor logo o conduziria ao reconhecimento popular. Passou a ser muito requisitado para animar festas, bailes chics e bregas, retretas e missas solenes, valsas nos clubes sociais das elites, gafieiras e boleros nos cabarés da cidade.
Nas micaretas do Rio Novo Tênis Clube fazia sucesso com seus companheiros de sopro. O repertório de marchinhas era imprescindível.
No ano de 1955 não resiste aos sons da paixão e casa-se com a jovem Maria Ramos, filha de dona Avelina, carismática senhora que negociava comidas na feira livre de Ipiaú e não negava um prato àqueles que mesmo sem dinheiro se dirigiam à sua barraca.
O casal teve oito filhos (Osmário , Osório Filho, Manoel Neto, Mirian, Osmar, Rosimary, Osman e Oldair), 11 netos e dois bisnetos.
Osório sempre morou na Rua São Roque. Era vizinho das famílias de Acácio Mendes, Zuza Vieira, José Cardoso, dona Morena, Maneca Simões, João Ferreira e Joana Pombo, dentre outros moradores históricos dessa artéria da cidade.
Gostava de criar galinhas e passarinhos. Apreciava o belo e melodioso canto do sabiá, os trilhados agudos do pássaro preto, as ricas notas musicais dos curiós e papa-capins, o chorinho folgueado do chorão… Cuidava de todos com carinho. Encantava-se com eles.
Os que conviveram com Mestre Osório o definem como um homem tranquilo, brincalhão e contador de causos, resenhista… Torcia pelo Vasco da Gama e pelo Independente Esporte e Cultura.
Espirito benfazejo, bom coração. Estava sempre servindo, fazia o bem sem olhar a quem, gostava de ensinar sua arte, formar discípulos. Alguns deles se tornaram excelentes músicos e chegaram a graduações, inclusive como maestros. Professores de música, inclusive tecladistas, o tinham como mentor.
No comando da tradicional filarmônica Mestre Osório sucedeu ao Mestre Lôla, o qual teve como antecessor o Maestro João Araújo, tio do produtor de eventos, cantor e criador do Programa de Calouros, João Araújo de Souza.
Mestre Osório tornou-se regente da Filarmônica Alberto Pinto, em 1975, quando o então prefeito Hildebrando Nunes Rezende investe nesse Patrimônio Cultural Imaterial, dotando-o de novos instrumentos e o reestruturando adequadamente.
Nas comemorações do Cinquentenário da Emancipação Política de Ipiaú, em 2 de dezembro de 1983, segunda gestão de Hildebrando, a Filarmônica desfilou solenemente pelas ruas da cidade. Mestre Osório seguia na frente exibindo sua liderança. Simpatia e elegância, o momento lhe tornou ainda mais galante.
Dentre outras peças a banda executava o Hino de Ipiaú, composição do dentista Manoel Pinto (Mapin), filho do Major Alberto Pinto e extremamente amante de Ipiaú, sua terra natal.
Por falta de uma política cultural a Filarmônica Alberto Pinto que tanto incentivos recebeu do ex-prefeito Hildebrando Nunes Rezende, foi desativada no início da década de 1990. Diziam que foi por vingança política.
Mestre Osório, na condição regente, fez as tripas coração para que isso não acontecesse. Chegou a fundar uma “Escolinha de Iniciação Musical”, visando a recomposição da banda, mas, infelizmente, não foi bem-sucedido na boa intenção.
Paralelo a atuação voluntária na filarmônica, Osório exercia a sua função de músico profissional. Fundou sua própria banda que recebeu o nome de “Osório e Seu Conjunto”. Depois integrou o Musical “Apolo IX” e em seguida, em sociedade com João Araújo, Edmundo Costa, fundou o Conjunto Joedson que se tornou referência positiva entre as bandas de bailes baianas.
Também fundou o grupo “Brasil Seresta”, do qual participava seu filho e herdeiro musical, Osmar Ramos Costa, mais conhecido como “Zola”, muito hábil no trompete.
Mestre Osório escrevia partituras para qualquer instrumento musical, sobretudo os de palheta. Nos conjuntos de baile preferia o Sax Soprano e na Filarmônica o Sax Tenor. Era expert na Clarineta.
O cidadão Osório Costa tinha o seu lado de político. Era militante do antigo MDB, simpatizante da esquerda democrática. Gostava de bater papo com o escritor Euclides Neto e com o alfaiate Esmeraldo que lhe contava façanhas do antigo Partido Comunista Brasileiro ( PCB).
Desfrutava de boas amizades, dentre as quais as do prefeito Hildebrando e dos comerciante Julival Ferrari ( Jujú) e Odilon Costa, padrinho de um dos seus filhos. Uma das ruas de Ipiaú , no Bairro São José Operário, tem o seu nome.
Sentido chegar a velhice, Mestre Osório foi deixando de ado a atividade profissional de músico e resolveu buscar novas perspectivas de vida na paradisíaca Península de Maraú. Passou a morar na tranquila Saquaíra, onde fundou o folclórico Bar Kudun, ponto de parada obrigatória para todos que transitam naquele trecho da BR-030.
Em Saquaíra, Osório ainda comandou muitas festas, inclusive inaugurou o carnaval do lugar. Viu o Kudun crescer e torna-se em uma mercearia bem requisitada por turistas e nativos. A brisa marinha, o meio ambiente, a prosa dos nativos, a poesia reinante, lhe garantiram um final de vida tranquilo. Vitimado por uma grave doença, retornou a Ipiaú onde aguardou os desígnios de Deus.