Bananão… ô Bananão! A provocação era como acender o pavio curto de uma bomba potente. A explosão vinha de imediato numa intensidade de xingamentos, desde o clássico “é a mãe” ao radical f.d.p. Passava por gestos obscenos, pedradas e chegava ao extremo.
O provocado se despia por inteiro, exibia a semelhança, e gritava: “Olha aqui o bananão, ó! A correria era inevitável, a algazarra crescia. Os portões dos colégios, as portas e janelas das residências se fechavam, a guerra estava deflagrada. De um lado a molecada provocando em gritos, do outro Nil reagindo com raiva, demonstrando vontade de estraçalhar, garguelar, desabafar o sentimento do ego ridicularizado.
Os que, por desventura, caiam em suas garras ficavam sabendo da força que continha e do significado do ditado “o dia da caça”. Às vezes uma crise de epilepsia interrompia o furor e Anísio Souza Santos, nome pelo qual ninguém o chamava, apesar de ter sido assim batizado, ficava se contorcendo, protestando em agonia. Refeito, levantava e continuava sua jornada, caminhando a esmo, aterrorizando os meninos, reagindo aos insultos, plantando a sua história na cidade.
Alto, desengonçado, sensível, dotado de infantilidade, Nil (derivado de Anísio) costumava esboçar um sorriso que era como se estivesse acenando um gesto de paz, uma trégua na batalha cotidiana. Demorava pouco e logo alguém gritava da esquina: Bananão… ô Bananão! A batalha recomeçava com mais ferocidade, o emblemático sorriso logo dava lugar à expressão raivosa. Alvo fácil, o guerreiro insano era encurralado e atingido por pedradas, pauladas, insultos. Lesionado em seu interior Nil batia em retirada, chorando, soluçando, jurando vingança.
Um dia, outro “doido”, o malhado Juarez, lhe deu uma surra violenta e se sentiu herói diante dos aplausos dos estudantes. Pouco tempo depois Nil foi retirado da sua terra natal. Levaram-lhe para Salvador onde perambulava pelas ruas do bairro de São Caetano, lugar em que ninguém lhe chamava de “Bananão.
A capital tinha seus encantos, mas também oferecia muitos perigos. Abestalhado no meio de tanto carro Nil acabou sendo atropelado e sofreu grave fratura em uma das pernas. Desde então não mais andou. De volta à Ipiaú, foi recolhido em uma casa do Bairro da Democracia sob os cuidados da sua tia Valdelice.
Há dez anos viveu entre a cama e a cadeira de rodas, quase não falava, aparentava tranquilidade, embora em sua expressão sexagenária uma pitada de ironia lembra o gesto que usava quando lhe chamavam de Bananão e parece dizer: ”ó, ó, ó aqui pra vocês! Nil morreu em 2013. (Giro/José Américo Castro)