Dom Quixote de La Mancha e Charles Lima de Ipiaú simbolizam a presepada universal. Cada qual no seu cada qual. Muda o cenário, mas permanece o estilo. Geniais em seus delírios. Camaleônico, sempre mudando de atitudes, porém preservando o essencial do ser, singular e plural, Charles Lima é uma das mais irreverentes personagens folclóricas dessa surreal cidade baiana. Pelas ruas, praças, repartições, solenidades, atos públicos, ele “arma o barraco”, chama a atenção, provoca, argumenta, irrita e chega a afirmar que não é mesmo deste mundo. Digamos que sempre anda sobre placas tectônicas, tal a explosividade do seu ser.
No perfil multifacetário de Charles constam momentos de capoeirista, fotógrafo, detetive político, blogueiro, pastor evangélico e inúmeras outras manifestações. Ultimamente se apresenta como adepto do judaismo, com direito à longa barba, talite, quipá e um certo aspecto profético. Charles, invariavelmente é alvo de troças, mas ninguém ousa ficar na sua mira. Nem mesmo o vereador e ex-prefeito José Mendonça, cujo comportamento é bem parecido com o seu, quando o assunto é política. Guardando as devidas proporções, é claro. Nos períodos de campanha eleitoral, Charles provoca debates, pirraça adversários, apresenta propostas megalomaníacas e pouco convence.
Nesse pula-pula adota uma ética bem sacana: “Sou igual a barata, se não comer eu melo tudo”. Quis ter uma participação mais efetiva na atual campanha eleitoral, entretanto indeferiram sua candidatura a vereador pelo PSD. Esperneou mas acabou aceitando ser cabo eleitoral de José. Vez por outra, Charles ocupa a Tribuna Livre da Câmara Municipal e detona os vereadores, o prefeito, o governador, a rainha da Inglaterra e quem tiver pela frente. É como se fosse uma metralhadora em mãos de macaco. Coisas da democracia provinciana.