“Vocês querem bacalhau? Repetimos o famoso bordão do celebre comunicador Abelardo Barbosa (Chacrinha), para apresentar o espalhafatoso Salvador Pereira Monteiro, cujo apelido tem tudo a ver com a mercadoria que o “Velho Guerreiro” ofertava aos gritos à delirante plateia de um dos seus programas da Rede Globo de Televisão. “Bacalhau”, é uma dessas figuras que fazem de Ipiaú um extraordinário celeiro de personalidades folclóricas.
A ele também se aplica a expressão: -Eu vim para confundir e não para explicar-. Sendo assim vamos em frente, afinal “quem não se comunica se trumbica! Pipoqueiro, vendedor de quebra-queixo, aguadeiro, servente de pedreiro, marceneiro (especializado em urnas funerárias), jornaleiro, berganheiro e tantos outros jeitos de ser, Bacalhau é múltiplo, sintético e absurdo.
Nesse cartel de vivencias consta a sobrevivência de uma queda do quinto andar do inacabado Edifício Santa Paula e a diferenciada condição de marido de uma anã. “Já fui quase tudo nessa vida, só não fui ladrão, maconheiro e viado”, adverte o personagem, antes que alguém generalize de vez.
Dentre os inúmeros causos que contribuíram para que Bacalhau tivesse graduação folclórica, destaca-se o enterro de “Macarrão, figura do mesmo naip que também marcou época na presepada local. Grandão, pesado, o defunto foi colocado em um caixão construído em uma funerária local.
Bacalhau acompanhava o cortejo fúnebre contando vantagens, relembrando outros “presuntos” e exaltando a sua capacidade na arte de fazer o paletó de madeira. A prosa seguia animada até que, na esquina da Praça dos Cometas com a Ladeira do Cemitério, o fundo do caixão arriou e o morto foi ao chão antes da hora. Inicio de pânico, risos incontidos, piadas dos bêbados que haviam exagerado durante o velório, olhares de repreensão para Bacalhau.
O jeito foi a colocar o finado dentro de uma rede e seguir viagem para “a cidade do pé junto”, onde Candola, o coveiro, lhe esperava. Devido à cumplicidade com os fabricantes do caixão, Bacalhau não pensou duas vezes: deu meia volta e sumiu da área. Refugiou-se em Salvador, onde vendendo o Jornal da Bahia, na Baixa dos Sapateiros, aperfeiçoou a gritaria que lhe é peculiar.
Nos tempos de aguadeiro (anos 60), Bacalhau tinha uma jumenta, chamada “joaninha” que além de transportar a água do Rio de Contas para abastecer os tanques da casa de Ataíde Ribeiro, era dotada de outras serventias… Todo dia a dita cuja recebia em audiência uma turma de admiradores. Isso deixava Bacalhau na bronca. Às vezes ele queria cobrar pedágio, agregar valores, mas acabava compreendendo que era preciso democratizar, afinal a jeguinha se tornara utilidade pública municipal.
Na “Feira do Rato”, Bacalhau revendia relógios, enrolava os mateiros, sentia-se importante e nunca dava trabalho a policia, pois sabia que malandro demais se atrapalha. Do tradicional Programa de Calouros, apresentado na Festa de São Roque pelo locutor João Araújo, o velho “Baca” foi pioneiro.
Um show que o famoso Luis Gonzaga faria no largo da Igreja Matriz tinha sido cancelado de última hora e o público se mostrava insatisfeito. A Comissão da Festa recorreu ao locutor que, não vendo outro jeito, improvisou o concurso:”aquele que imitasse algum cantor famoso ganharia um premio”. Bacalhau e Jaime Piau se habilitaram. O primeiro imitou Silvinho e ficou em segundo lugar, Piau optou por Orlando Dias e foi o vencedor.
Miltinho, irmão do tabelião Protógenes Jaqueira, resolveu contratar Bacalhau como pipoqueiro. Não durou muito tempo para que o contratado pedisse as contas e abrisse o seu próprio negócio. Foi vendendo pipocas que Salvador Pereira Monteiro, testemunhou momentos importantes da história de Ipiaú e conheceu inúmeras pessoas, dentre as quais a pequenina Raimunda Monteiro Lima com a qual convive há mais de 30 anos, dando provas de um amor incondicional.
Raimunda é a mãe do anão Ral, cujo enterro todos viram. Excentricidades da nossa cidade. Outro detalhe: Bacalhau foi ganhador, por duas vezes, da antiga Loteria Esportiva. O dinheiro faturado com os 13 pontos foi literalmente torrado no “roi couro”, com as meninas de Tia Ló, a cafetina mais famosa da região. O apelido de Bacalhau, Salvador ganhou quando ainda era um menino magricelo, tipo o famoso peixe seco. A partir de então lhe dedicaram a modinha: “Bacalhau assado, da espinha dura, que fedor de bufa nessa criatura”. Isso o irritava até que Chacrinha apareceu na televisão valorizando a tal mercadoria. (Giro/José Américo)