Sherazade, a narradora das Mil e Uma Noites poderia muito bem anexar ao seu fantástico repertorio a extravagante historia de Edinho Thiara, “Digolino, o Sultão do Guloso. Miragens do Saara no jardim da Praça Rui Barbosa, em Ipiaú, Oasis ocidental, descortinando as portas do Éden. Tapetes mágicos sobrevoando paisagens e tardes nordestinas, carros importados capotados e desprezados nas estradas vicinais de Ibirataia, camelos, onças, galos de briga, cavalos árabes em corridas colossais e belas odaliscas, fazem parte dessa fantástica fábula.
Edson Gonçalves Thiara, 70 anos, filho do lendário José Thiara que veio da distante Tatras, na Síria, fazer fortuna na terra do cacau e se tornou um dos mais ricos homens da região, é o exótico personagem deste capitulo. A magnífica fortuna do pai ele não conseguiu gastar em sua totalidade, mas contribuiu com o consumo de uma boa fatia. Estonteante extravagância.
Nas suas andanças pelo mundo, Edinho manteve relações com inúmeras mulheres, odaliscas do seu exótico harém. Morou na Suíça, Inglaterra, Estados Unidos e muitos outros países. Visitou Beirute, montou num camelo, viveu emoções dos antepassados, gerou 10 filhos. Nesse tempo de filho prodigo estourou muito dinheiro, promoveu farras homéricas, ganhou a fama de playboy internacional. Aprontou tanto na Suíça que acabou sendo deportado de volta para o Brasil.
No auge da extravagância, Edinho Thiara gostava de alugar boates e promover orgias, festas imensas que duravam dias seguidos. Trocava de carros a cada mês, quase sempre após um acidente que deixava o antigo veiculo esbagaçado. Fez muitas peripécias nos “pegas” do Farol da Barra, em Salvador. Em menos de 15 anos torrou uma grande herança deixada pelo velho Thiara. Dessa riqueza constava a famosa Fazenda Corcovado, em Ipiaú, com 750 hectares de plantações de cacau e uma produção de cinco mil arrobas.
Fanático por galos de briga e cavalos de corrida, Edinho Thiara chegou ao ponto de trocar um carro importado por algumas dessas aves e de dar banho de cerveja e champanhe nos seus cavalos que venciam as corridas. Certa vez, durante uma farra no Restaurante Galo Vermelho, Edinho atirou um relógio (marca Rolex) de ouro, nas águas do Rio de Contas, só para testar o fôlego de alguns mergulhadores. Quem achasse ficava com o precioso objeto. Ninguém teve essa sorte, nem mesmo o lendário Cassiano, senhor das profundezas.
Em outra ocasião, invertendo os papeis, atacou a dentadas, um feroz cão de guarda. Não ficou só nisso, criou uma onça sussuarana e costumava passear com o felino pelas ruas de Ipiaú. Pouca gente se arriscava a ficar por perto, mesmo a fera estando na coleira e corrente.
Edinho Thiara também foi goleiro da Seleção de Ibirataia e nunca dispensava uma garrafa de cachaça junto a trave. Um dia, no auge da sua viagem etílica, Edinho Thiara aceitou o desafio de uma luta livre, em um circo, armado na Praça Dr. Salvador da Matta, contra Salomé Garcia, a fera feminina dos ringues mambembes. Aplicando golpes violentos “Digolino”, ganhou o combate e os aplausos de uma bairrista platéia que lhe chamou de herói e carregou nos ombros até o “Bar de Fran”, onde bancou a farra durante a noite inteira.
Brigas eram habituais na vida de Edinho. Batia mas também tomava muita porrada e, vez por outra, esbarrava no xilindró. Era o preço de tanta ousadia. Sempre que aprontava em Ipiaú e Ibirataia, Digolino buscava refugio na Fazenda Gulôso, a sede do seu reinado, onde tinha a proteção do gigante Brazilino e de outros pajens do seu pai.
São tantas, tantas e tontas, as estórias de Digolino que nem mesmo Sherazade daria conta de contá-las em suas mil e uma noites de astucia. O Sultão do Guloso não lhe deixaria impune. Atualmente Edinho Thiara atravessa momentos de dificuldade financeira, mas confessa que não se arrepende das suas extravagâncias e assegura que um dia voltará a ser rico, muito rico.
A riqueza que, porventura, venha lhe contemplar no tempo da velhice, dará mais segurança à esposa Aída com quem convive há mais de 30 anos e aos filhos inúmeros filhos.Falando destes Edinho garante. “Eles representam a minha felicidade”. (Giro/José Américo)