Figura emblemática da Rua do ABC e por extensão da própria cidade de Ipiaú, Teodoro Salomão de Oliveira é sempre lembrado pelo povo desta terra. O jeito simples, cheio de gentilezas, a educação essencial, a religiosidade e a determinação para o trabalho, imprimiram-lhe traços de uma personalidade nobre que só saía do sério quando alguém insinuava lhe fazer cócegas ou pronunciava a fatídica frase: “Olha o sapo, Teodoro”. Era faniquito na certa. Ele gritava, pulava, reclamava, suspirava, suava frio, botava a mão no coração, pedia um copo de água, lastimava o infortúnio. Depois sorria e explicava o quanto aquilo lhe incomodava.
O trauma teve origem na infância, quando ainda morava na fazenda dos seus pais, na zona rural de Itagi. Não se sabe por qual motivo um sapo-boi lhe perseguiu numa boca de noite. O certo é que a cena jamais saiu da sua memória. A carreira em alta velocidade que empreendeu na fuga, foi movida por mau presságios e desespero. Sem psicólogos ou psicanalistas, Teodoro ficou definitivamente com o susto que autenticou o seu ingresso no folclore ipiauense. A pandemia do Coronavírus não lhe seria tão aterrorizante quanto a lembrança do sapo.
Nascido no município de Mutuípe, no dia 1º de Julho de 1917, Teodoro era filho de Antonio Salomão de Oliveira e Maria Arcanja . Teve seis irmãos biológicos. O trabalho árduo nas lavouras de fumo, café e mandioca, permitiu à família recursos para adquirir uma terra na zona rural do atual município de Itagi. Eles deixaram o Vale do Jiquiriçá, sonhando enriquecer na região do cacau. Nessa fazenda Teodoro passou a infância, vivenciou a situação do sapo-boi, aprendeu a trabalhar e cresceu.
Um dia resolveu conhecer a Vila de Rio Novo, hoje Ipiaú, onde encontrou Valdete Silva, uma moça bonita, de olhos claros, que lhe encantou de imediato. Em 14 de agosto de 1946 se casaram na antiga Igreja Matriz de São Roque. A cerimônia foi celebrada pelo padre Simão Phileto, primeiro pároco do município. Acompanhado de Valdete, Teodoro retornou para a fazenda em Itagi, onde nasceram seus primeiros filhos: Luis Carlos, Dorival (Dorinho) e Luzia. Tiveram 14 filhos, no entanto apenas seis sobreviveram.
A necessidade de garantir a alfabetização dos meninos, impôs mudanças nos planos. Em 1951 já estavam morando novamente em Ipiaú, na Rua Mira Rio. Um ano depois comprou um terreno em uma área pertencente ao major Alberto Pinto e dona Sinhazinha. O espaço na parte alta da cidade já tinha algumas casas e recebeu o nome de Rua do ABC, atualmente denominada de Rua Tomé de Souza. Com muito esforço construiu a casa própria, onde nasceram Maria Rita, Paulo Roberto, o popular “Beto Sucuiuba” e Maria Rosália (Zay).
Em determinado momento da sua existência, Teodoro foi vitima de uma congestão. Ficou internado na Casa de Saúde São José, de Dr. Mesquita. Nesse ínterim assinou uma procuração para que um advogado cuidasse da terra que herdou em Itagi. O dito cujo causistico lhe passou a perna, enquanto a congestão deixou sequelas.
Bastava alguém chegar mais perto para que Teodoro reagisse com pulos, sentindo cócegas… A coisa evoluiu a ponto de um simples gesto, à distancia, lhe provocar o chilique.
Amargando a perda do patrimônio, cheio de sensibilidade traumática, Teodoro procurou reergue-se. Deu a volta por cima vendendo verduras na feira livre da cidade. Bancou a educação dos filhos e manteve a dignidade.
Pelo fato de auxiliar o pai na barraca da feira, o filho mais velho ganhou o apelido de “Luis Tomate”. Tornou-se um excelente professor de inglês e trabalhou como interprete no Centro Industrial de Aratu e na empresas multinacional Norberto Odebrecht. O único que não se formou foi o caçula, Beto, mas, em compensação realizou-se como exímio quituteiro e criativo artista plástico.
Teodoro continuou a sua jornada. Trocou a barraca na feira pela vendagem de queijo. Fazia entrega em domicilio, prosava, contava histórias. Quando não estava trabalhando, ou no recesso do lar, era encontrado na igreja. Frequentava as missas, tornou-se catequista e filou-se à Irmandade do Coração de Jesus. A religiosidade lhe deu forças e resignação.
Fazia romarias ao santuário de Bom Jesus da Lapa e nas procissões de São Roque estava sempre em destaque. Seguia solenemente carregando a cruz ou andor do padroeiro. O problema era se algum gaiato, sabendo que o santo é de barro, gritasse bem alto: olha o sapo, ou insinuasse o gesto de que iria lhe fazer cócegas. (Giro/José Américo Castro)